quinta-feira, 24 de julho de 2008

"Dói-me a tua solidão que não tem cura"

VINHO DERRAMADO

Enquanto os outros encontram procurando
tu encontraste, encontrando
uma brecha no tecido do tempo, para nos escondermos
desta cidade, onde não fica bem ser-se
meteco universal, neste fim de milénio.

Mal te afastas-te e vejo-te chegando
com a migração das pedras roladas pelas nuvens,
por caminhos que também a nós aqui trouxeram
um dia ao centro desta margem.

Dói-me a tua solidão que não tem cura,
nem engolida pela minha solidão canibal;
e como ao longe ainda estás perto
és como o vinho derramado que ao cair segura
a luva de sombra da minha mão...


Dinu Flamând, 1998
(na colectânea "Haverá Vida Antes da Morte?", Quasi Edições, 2007; tradução do romeno de Teresa Leitão)