sexta-feira, 3 de novembro de 2006

O Outono dos Surrealistas

Cesariny, Cruzeiro Seixas e Fernando José Francisco reencontraram-se ontem em Lisboa. O "Público" de hoje deu a notícia:

Dois artistas e um apaixonado, todos surrealistas
Não estavam juntos há mais de 50 anos e ontem à noite, quando se reencontraram na Galeria Perve, em Lisboa, para a inauguração dos 12 desenhos que fizeram este ano a seis mãos, actualizaram saudações e falaram do passado. "A Emília manda-te um beijo", disse Fernando José Francisco (ao meio, na foto) no segundo em que Mário Cesariny (à esquerda) chegou. "Ela está cá?"; "não, ficou em casa". Velhos amigos da escola António Arroio, hoje todos com mais de 80 anos, fundaram em 1948 um grupo dissidente chamado Os Surrealistas. Separaram-se logo em 1951, dois tornaram-se nomes importantes - Cesariny e Cruzeiro Seixas - e o terceiro, Fernando José Francisco, apaixonou-se e "fugiu para dentro". Mas era "o melhor": "Com o Fernando aprendi a ser pintor. Ele, que desistiu, era o melhor, estava fadado para ser "o" grande pintor de Portugal, mas deu-se o milagre da Emília e desapareceu", contou Cruzeiro Seixas. "Juntos, aprendemos a ter alegria, cada um era o espelho do outro", disse Cesariny. "Eu aprendi a amar os homens e as mulheres, acho que não aprendi mais nada", fechou Fernando José Francisco. "Já não é mau!", riu-se Cruzeiro. Uma conversa de três surrealistas, já muito surdos e interrompida por muitos "o quê? não ouvi", à frente de alguns amigos e muitos fotógrafos. A exposição O Passeio do Cadáver-Esquisito fecha a 20 de Dezembro.
Bárbara Reis, "Público", 03/10/2006