O novo filme de David Lynch, "Inland Empire", chega a Portugal na próxima quinta-feira, dia 5. No Santiago Alquimista, em Lisboa, vai haver uma festa de lançamento, com projecção deste e de outros filmes do realizador e música ao vivo. Informações aqui.
Actores principais: Laura Dern, Jeremy Irons e Justin Theroux.
O "Expresso" publicou ontem a transcrição de uma conversa entre os vários críticos do jornal. Fica um excerto do que disse Vasco Baptista Marques:
"A questão de saber se este filme se percebe parece-me uma falsa questão. O filme suscitará tantas interpretações quantos espectadores tiver, e essa é a sua grande força, como é a grande força da obra do Lynch, que está numa zona de cruzamento entre o cinema e as artes plásticas. Aliás, mesmo no final deste filme, há uma referência à pintura do Bacon, um rosto que se desfigura e fica ensanguentado. Mas o filme percebe-se tão bem como um sonho do qual se acorda. É claro que é possível tentar desmontar o filme à luz de uma narrativa coerente. Parece-me possível, mas não interessante. O que aqui tem graça é a forma como o Lynch nos propõe uma viagem e o que essa viagem nos dá. Pessoalmente, acho que este não é o seu melhor filme, porque abre pistas que não aproveita por completo. Durante a primeira hora, por exemplo, até ao momento em que a Nikki entra na casa do estúdio e se vê a si própria, passando aí para o outro lado do espelho, pareceu-me que o filme se iria encaminhar para um trabalho mais claro sobre a representação, sobre a forma como a representação e o cinema como representação está sempre assente numa possibilidade de mentira. Ele retoma isso no fim, mas parece-me que o bloco central do filme é demasiado longo e dispersivo para aquilo que se quer dizer. (...) É um filme musical. Há motivos que aparecem e, depois, há variações que são feitas sobre eles. Aliás, Lynch fala da génese de um filme como uma ideia em torno da qual se agregam outras, que é a estrutura-base de uma variação musical. Há uma possibilidade de narração linear que implode. Como? Através da manipulação do espaço e do tempo. Ele traz para dentro do filme as estruturas da memória e da imaginação, e é isso que lhe dá aquele ar descosido."