quarta-feira, 5 de novembro de 2008

"toda a cama a céu aberto como um peito"

Capa do primeiro número da revista literária "Criatura", publicada em Fevereiro (o segundo número saiu há dias). A "Criatura" é dirigida pelo Núcleo Autónomo Calíope, da Faculdade de Direito de Lisboa.
Do primeiro número, pois, um poema de Nuno Araújo, brilhante, como sempre:
à meia-luz, no sono rarefeito deste licor, escrevo-te de cigarro nos dedos, atropelando as páginas embriagadas. é cirúrgico o amor que se instala por dentro dos lençóis, toda a cama a céu aberto como um peito. adormeceste assim, insinuando-te como uma boca junto das minhas palavras mais fechadas. não sei se esta febre é rasgada dos lábios que se colam à narrativa do teu corpo ou se bebo se não com todo o medo. acendo outro cigarro porque a manhã ainda tarda neste cinzeiro antigo. Fumo muito quando dormes assim, como um incêndio carpindo as faúlhas do tempo.