quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O Frágil abriu há 30 anos

A noite de Lisboa era triste e decadente, tímida e antiquada. E então apareceu o Frágil e a partir daí nada seria como dantes. O bar criado em 1982 por Manuel Reis e Carlos Fonseca trouxe a Europa até Lisboa e deu gás aos sonhos de uma juventude inquieta. Esta semana, para assinalar três décadas de vida, há festa na Rua da Atalaia, escreve Bruno Horta.


 
 

Já ninguém vai ao Bairro Alto para encontrar poetas e intelectuais inatingíveis – porque já ninguém é inatingível e a última coisa de que se quer falar é de arte ou política às duas da manhã. Também já não se escolhe a melhor roupa para conseguir entrada num bar – porque  os  bares  se estendem todos para a rua e a roupa com mais estilo é hoje, quase sempre, a menos engomada. Se observarmos a noite de agora com os olhos de há três décadas, ela está definitivamente em parte incerta. Tornou-se anónima, informal, massificada e largou os punhos de renda que Portugal mantinha nos anos 80. Entre um copo e uma música, já não se decreta um programa para mudar o mundo, porque Lisboa já não tem – e talvez não queira – um lugar, apenas, onde se agitem  possibilidades.  Esse  lugar  existiu  há  30 anos, foi o Frágil e abriu a 15 de Junho de 1982.


[EXCERTO DE artigo publicado na revista Time Out Lisboa de 20 de Junho de 2012, pp. 22 a 24]