domingo, 16 de dezembro de 2012

Macabro


A sinopse diz que "Eu Não Sou Bonita. Eu Sou o Porco" é um espectáculo sobre abuso sexual na infância, mas essa descrição é limitada. O que vejo é um espectáculo parafílico, sim, mas claramente de crise, um espectáculo sobre crises pessoais em ambiente de crise, ou sobre o modo como as crises pessoais são devolvidas ao outro sob a forma de absurdo. 
Se em criações anteriores John Romão parecia procurar a perfeição das coisas (dos corpos, sobretudo), aqui  há um descarrilamento e uma assumpção de desvio incontinente. Daí o gore, o macabro, o "porno-pimba".
Deve-se isto ao próprio? Ao facto de estar aqui em colaboração com outra actriz, Solange Freitas?
Os textos, que segundo a ficha técnica pertencem à catalã Angélica Liddell e ao português Paulo Castro, são desiguais, descontínuos até para a narrativa que nos é apresentada em cena.
Parece um ensaio para uma coisa maior que há-de vir. "Eu Não Sou Bonita. Eu Sou o Porco" é como o início de uma mudança de rumo. Está tudo mais carregado e menos contido.