Michiko Kakutani, de 53 anos, vencedora de um prémio Pulitzer, é a mais temida das críticas da imprensa americana. E uma das mais odiadas. Todas as semanas, desde 1983, assina recensões bombásticas e nem os nomes mais sólidos da literatura contemporânea ficam a salvo. As editoras americanas até inventaram um novo verbo para designar os alvos da sua prosa: “Kakutanied” – em português, qualquer coisa como “ser kakutaniado”.
Uma das mais recentes polémicas, aconteceu há poucas semanas. “É a pessoa mais estúpida de Nova Iorque”, disse dela o escritor Jonathan Franzen, de cujo recente livro de memórias, The Discomfort Zone, Michiko disse cobras e lagartos. Há uns anos, foi Norman Mailer quem a atacou. Ao saber que o seu livro O Evangelho Segundo o Filho tinha sido considerado por Michiko como “tonto e presunçoso”, o velho escritor chamou-lhe “mulher kamikaze” e disse que “ela odeia escritores homens e brancos”. A famosa ensaísta Susan Sontag, que recebeu opinião negativa sobre o livro Olhando o Sofrimento dos Outros, disse que Michiko “faz críticas estúpidas, rasas e pouco objectivas”. Já Salman Rushdie referiu-se a ela como “uma mulher estranha, que parece oscilar entre a devoção a certos livros e o ódio”.
Michiko nasceu nos EUA (em New Haven, no Connecticut) e é de origem japonesa. O pai era um conhecido matemático, Shizuo Kakutani (a mãe não se sabe o que fazia). Licenciou-se em Inglês na Universidade de Yale, em 1976. No ano seguinte começou a trabalhar no Washington Post como repórter. Depois, foi para a revista Time. Em 1979, já só escrevia sobre temas culturais para o NYT. Desde 1983, é crítica literária.
Solteira, vive em Manhattan, nunca dá entrevistas e recusa a vida social, de beberetes e festas. Muitos editores americanos nunca a viram sequer. Fotografias delas, só as muito antigas. Consta que é fã da equipa de basebol New York Yankees e é amiga da colunista do NYT Maureen Dowd – igualmente uma polemista inveterada.
O facto de continuar a ser respeitada, apesar das suas opiniões, deve-se, em parte, ao Pulitzer, o mais importante prémio jornalístico dos EUA, que recebeu em 1998. Cinco mil dólares “pela sua escrita apaixonada e inteligente”, justificou o júri.