"Quando a rebeldia psicadélica ainda está na moda, embora a LSD e as suas afins comecem a parecer excessivas para os novos tempos, reaparece a cocaína como droga «adulta» e inclusivamente «cortês». (...) Os seus consumidores, em 1970, são uns cinco milhões de norte-americanos, que adquirem cocaína bastante pura a preços acessíveis, com poucos casos de intoxicação. (...) Bastam dois anos para que os cinco milhões de iniciados se convertam em mais de 30. (...) Tal como a heroína socializa o mal-estar, a cocaína socializa o bem-estar ao nível mais ostensivo, no espelho em que se olha quem a aspira usando uma nota de cem dólares ou um pequeno tubo de ouro, sentindo-se introduzido numa selecta atmosfera de prazer e mudanidade. É também um modo de imitar os marginais sem se marginalizar, com uma substância que não ameaça levar de «viagem» e faz parte da aura dos triunfadores, usada por artistas, executivos e políticos para se manterem onde estão". (pp. 161 e 162)