Entrevista com o psicólogo social João Manuel de Oliveira, na "Time Out Lisboa" de 26 de Novembro; excerto:
Em que ponto de evolução está o movimento LGBT português?
Acho que já conseguiu um estatuto que lhe permite dialogar com instituições oficiais. E conseguiu uma coisa importante que foi a alteração do artigo 13º da Constituição, que agora proíbe a discriminação em função da orientação sexual. Se não houvesse movimento LGBT essa conquista não existiria.
Apesar disso, as associações LGBT portuguesas têm muita dificuldade em reconhecer que são um lóbi. Porquê?
Porque em Portugal há uma representação negativa da ideia de lóbi. E porque dizer isso é uma forma de desqualificação desses colectivos. O lóbi faz-se sobretudo junto de instituições políticas, mas eles têm uma actividade que vai além disso, de sensibilização da opinião pública, de apoio a pessoas, de manifestações. E isso não é fazer lóbi.
Para a maioria das pessoas o lóbi gay é outra coisa, é uma poderosa teia de interesses obscuros.
É verdade que em Portugal há muitas coisas que funcionam através do poder das relações, o chamado clientelismo, mas eu pergunto: se existe um lóbi gay, como é que os gays continuam a ser tratados como são? Se existe, esse lóbi não tem efeito.
Como o movimento gay só começou a ter força em Portugal nos anos 90 e em pouco tempo avançou muito, isso pode ser um sinal de que o lóbi funciona.
É preciso perceber porque é que se avançou. Para a questão da igualdade de género, a entrada na União Europeia foi essencial, porque nos obrigou a uniformizar a nossa legislação. E depois porque Portugal não podia continuar a apresentar-se nos fóruns internacionais como país que discrimina os seus cidadãos. Isso seria um indicador negativo de desenvolvimento.
Então não há lóbi gay?
Não sei se há, se não há.