quinta-feira, 31 de agosto de 2006

Alforrecas

O livro de João Pedro George também tem erros

O crítico e professor universitário João Pedro George tornou-se vítima daquilo que criticou. O seu polémico livro Couves & Alforrecas, severa crítica contra os erros e gralhas dos romances de Margarida Rebelo Pinto, contém, pelo menos, cinco erros de pontuação ou sintaxe. O mais visível de todos aparece nas páginas 47 e 48. Defendendo que o êxito comercial dos escritores tem uma “conotação pejorativa” no meio literário, escreve: “a esmagadora maioria das pessoas que escreve livros tem uma primeira profissão e, depois, nos tempos livres, é escritor”.
De acordo com o filólogo Fernando Venâncio Peixoto da Fonseca, em texto publicado no ‘site’ Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, é “errado” escrever “a maioria são ou estão em vez de é ou está, singular pedido por a maioria”. Ora, se a concordância se dá no número, também tem de se dar no género. Na frase de João Pedro George, o correcto seria, pois, “a esmagadora maioria das pessoas é escritora”.
A pontuação também apresenta falhas. Exemplo na página 17: “o leitor, a dada altura, entra em transe tal a sucessão de frases”. É flagrante a falta de uma vírgula depois de transe. Como está, a frase significa que “o leitor entra num tal transe” e não que “o leitor entra em transe, tal a sucessão de frases”, que é o sentido que o autor evidentemente pretendia.
Apesar de contactado, por e-mail, para comentar a existência de erros no livro, João Pedro George não respondeu.
Couves & Alforrecas foi publicado pela editora Objecto Cardíaco em Abril deste ano, sob contestação de Margarida Rebelo Pinto. Os romances da chamada “escritora light” sofrem, na tese de João Pedro George, de deslizes de ortografia, erros gramaticais e repetições. E a autora, lê-se na contracapa de Couves & Alforrecas, além de se repetir “imoderadamente”, “copia frases de uns para outros livros”,
Semanas antes de o livro chegar às lojas, Margarida Rebelo Pinto e a sua editora, Oficina do Livro, requereram em tribunal uma providência cautelar para impedir a distribuição e venda do livro, por, alegadamente, violar o "bom nome, personalidade e honra” da escritora". A 8ª Vara Cível de Lisboa determinaria, a 18 de Maio, que a autora de “Sei Lá” não tinha razão.

B.H.


AS CINCO ALFORRECAS DE JOÃO PEDRO GEORGE

· “O leitor, a dada altura, entra em transe tal a sucessão de frases" (p. 17);

· "particularmente insistentes são também as referências às almas gémeas e à essência do amor: 'estava ali a certeza...', 'procurando nos homens…' ou 'há muito tempo que me ando a questionar…'" (p.23);

· "a reduzida densidade humana desta literatura, ou melhor, desta sub-literatura" (p. 39);

· "na revista Grande Reportagem, a autora insurgia-se contra a tirania cultural, dos provincianos com ideias feitas" (p. 49);

· "a esmagadora maioria das pessoas que escreve livros tem uma primeira profissão e, depois, nos tempos livres, é escritor" (p. 48).