As manifestações, espontâneas ou não, a que assistimos nas últimas semanas, nomeadamente a da CGTP frente à Assembleia da República e as que sindicalistas e não sindicalistas têm organizado país fora sempre que o primeiro-ministro aparece, podem ter dois significados:
1) uma parte do país discorda frontalmente das decisões do governo (as que já produzem efeito e as anunciadas);
2) uma parte do país, consciente ou não disso, instrumentalizada ou não, está, tal como milhões de pessoas no Ocidente, perante uma irrefutável mudança de paradigma nas relações laborais e nos direitos sociais e quer resistir-lhe.
Num caso ou noutro, em resumo, é sabido que o mundo está a mudar para pior.
A jornalista São José Almeida fala disso no Público de hoje:
"Perante essa nova elite superior socialmente, essa nova upper class, há uma nova classe trabalhadora em formação na Europa, que mais não é do que uma regressão em termos históricos e que consiste no regresso da generalização do trabalho precário, o novo precariado, na expressão que ouvi há dias a uma pessoas amiga. É o nascimento deste novo tipo de trabalhador, ou a resistência em aceitar esta nova condição, que pode determinar o que é a luta social na Europa actual."
Os chamados líderes de opinião (sempre os mesmos em quase todos os órgãos de comunicação social) e os ministros e o primeiro-ministro e outra gente com responsabilidades acha que o protesto, perante as restrições de direitos decorrentes da política socrática, é apego a privilégios antigos e injustificados.
Ora, é sabido que só as elites têm acesso aos media (aos tradicionais, que ainda são os que contam na formação de opinião). Os media são propriedade de elites. O conteúdo é da autoria de uma elite. Qualquer espécie de indigência só tem hoje lugar nos media por razões comerciais. Os indigentes não assinam colunas de opinião nos jornais, nem aparecem no telejornal para comentar a actualidade. Quem dá opinião sobre a política socrática é uma elite. A elite com consciência de classe (para usar um termo marxista) é escassa. Portanto, é escassa a resistência mediática a Sócrates.
Donde, só na rua, hoje, se afronta o sistema. E só nos media, e nos corredores do poder, é que a afronta é tida por desprezível.
O caso está grave. As grandes empresas são agora os únicos empregadores que contam. O Estado quer deixar de o ser e entregar aos novos empregadores a capacidade de regular o mercado, a bem do bom funcionamento do mercado, claro.
Se os próximos tempos, anuncia o nosso tempo, prometem clivagens cada vez mais injustas entre quem pode muito e quem pode pouco (os jornais gratuitos, por exemplo, como parte da revolução da actual imprensa, são um sinal claro daquilo que o sistema destina aos desapossados, em contraste com os jornais pagos, com jornalismo de qualidade, destinados às elites), nenhuma ideia é mais reconfortante do que esta: se, como estabeleceu Marx, a luta de classes é o motor da História, estamos seguros de que declarar o fim dela é obviamente prematuro. Ao contrário do que escreve São José Almeida, não estamos a assistir a uma regressão histórica. Estamos, e estaremos na medida em que resistirmos aos novos paradigmas, a escrever a História.
2) uma parte do país, consciente ou não disso, instrumentalizada ou não, está, tal como milhões de pessoas no Ocidente, perante uma irrefutável mudança de paradigma nas relações laborais e nos direitos sociais e quer resistir-lhe.
Num caso ou noutro, em resumo, é sabido que o mundo está a mudar para pior.
A jornalista São José Almeida fala disso no Público de hoje:
"Perante essa nova elite superior socialmente, essa nova upper class, há uma nova classe trabalhadora em formação na Europa, que mais não é do que uma regressão em termos históricos e que consiste no regresso da generalização do trabalho precário, o novo precariado, na expressão que ouvi há dias a uma pessoas amiga. É o nascimento deste novo tipo de trabalhador, ou a resistência em aceitar esta nova condição, que pode determinar o que é a luta social na Europa actual."
Os chamados líderes de opinião (sempre os mesmos em quase todos os órgãos de comunicação social) e os ministros e o primeiro-ministro e outra gente com responsabilidades acha que o protesto, perante as restrições de direitos decorrentes da política socrática, é apego a privilégios antigos e injustificados.
Ora, é sabido que só as elites têm acesso aos media (aos tradicionais, que ainda são os que contam na formação de opinião). Os media são propriedade de elites. O conteúdo é da autoria de uma elite. Qualquer espécie de indigência só tem hoje lugar nos media por razões comerciais. Os indigentes não assinam colunas de opinião nos jornais, nem aparecem no telejornal para comentar a actualidade. Quem dá opinião sobre a política socrática é uma elite. A elite com consciência de classe (para usar um termo marxista) é escassa. Portanto, é escassa a resistência mediática a Sócrates.
Donde, só na rua, hoje, se afronta o sistema. E só nos media, e nos corredores do poder, é que a afronta é tida por desprezível.
O caso está grave. As grandes empresas são agora os únicos empregadores que contam. O Estado quer deixar de o ser e entregar aos novos empregadores a capacidade de regular o mercado, a bem do bom funcionamento do mercado, claro.
Se os próximos tempos, anuncia o nosso tempo, prometem clivagens cada vez mais injustas entre quem pode muito e quem pode pouco (os jornais gratuitos, por exemplo, como parte da revolução da actual imprensa, são um sinal claro daquilo que o sistema destina aos desapossados, em contraste com os jornais pagos, com jornalismo de qualidade, destinados às elites), nenhuma ideia é mais reconfortante do que esta: se, como estabeleceu Marx, a luta de classes é o motor da História, estamos seguros de que declarar o fim dela é obviamente prematuro. Ao contrário do que escreve São José Almeida, não estamos a assistir a uma regressão histórica. Estamos, e estaremos na medida em que resistirmos aos novos paradigmas, a escrever a História.