As tradições de japoneses e tibetanos são inspiração para [a estilista] Alexandra Moura este Inverno. No entanto, a mítica quietude daqueles povos jamais se viu enquanto preparou a colecção.
Ela aparece num ecrã de televisão. Sopra um balão. Sopra que sopra e quando o balão já se abaulou é que se percebe o que ele diz: "Obrigado." Alexandra Moura não vai à passerelle agradecer, como é hábito, depois de os manequins terem passado a roupa toda, trabalho de muitas horas, no caso, da colecção Outono/Inverno. Desta vez, não vai. Agradece por meio de uma gravação que passa em vários ecrãs. Um balão e obrigado. Até rebentar. O balão e a música alucinada (Beethoven debaixo da guitarra do músico Daniel Cervantes) e as cores invernosas e a tensão muito própria dos desfiles – não foi pequena a surpresa entre os circunstantes de uma Modalisboa que aconteceu há vários meses (26ª edição, em Março último), mas que ganha [no] Inverno a actualidade certa. Agora, portanto.
Mal termina a apresentação, ainda os aplausos soam, trocam-se confidências. Alexandra Moura é muito talentosa, do melhor que temos em Portugal, opina alguém que faz produções de moda há mais de 15 anos e que prefere passar incógnito. E ali está ela. No paraíso de um trabalho aplaudido, que traz paz e equilíbrio aos dias frios de Inverno. Seguríssima, fala às televisões e agradece elogios, nos bastidores. Tem 33 anos, desde há quatro que se atirou para a frente, em nome próprio. É já incontornável na semana da moda de Lisboa. Desta vez, foi às culturas japonesa e tibetana. Evoca-as, com emoção e muito trabalho.
Em Março, quando assistimos à fase final de preparação das propostas Outono/Inverno, ainda Alexandra Moura andava às voltas com o livro "The Path Of Buddha", de Steve McCurry, um fotojornalista americano da mítica agência Magnum, colaborador da National Geographic. "Esta colecção é inspirada na pesquisa que fiz durante uma viagem ao Japão, no ano passado, e nas imagens deste livro, que mostram a cultura e as vestes tibetanas", explica a designer, afogada em trabalho, no seu atelier, que é também escritório e showroom, no centro de Lisboa. "Emocionei-me muito com o livro."
Na verdade, estamos num apartamento. A decoração é sóbria. No chão, revistas de moda, "i-D" incluída, o último disco dos The Gift, livros com fotos de homens quase nus, com casas, com objectos de decoração. Fuma-se, e muito, Lucky Strike. Um computador portátil toca Mazzy Star. As janelas do Messenger piscam e ela não pára de teclar com amigos e conhecidos. O telemóvel ainda descansa, mas é por pouco tempo.
Sejam bem-vindos ao caos que precede a entrada de um conjunto de peças de roupa numa passerelle. Aqui ainda não há moda, há só inquietação, uma luta no tempo, num espaço exíguo para as lucubrações da artista. A entoação da voz sobe à medida que se aproxima a hora da verdade. Primeiro, pausada e afectuosa. Depois, nervosa e arrebatada.
E ainda nem chegámos aos bastidores.
B.H.
Excerto do artigo publicado na "Vogue" de Janeiro de 2007 (com fotos de José Pedro Tomaz).
Ela aparece num ecrã de televisão. Sopra um balão. Sopra que sopra e quando o balão já se abaulou é que se percebe o que ele diz: "Obrigado." Alexandra Moura não vai à passerelle agradecer, como é hábito, depois de os manequins terem passado a roupa toda, trabalho de muitas horas, no caso, da colecção Outono/Inverno. Desta vez, não vai. Agradece por meio de uma gravação que passa em vários ecrãs. Um balão e obrigado. Até rebentar. O balão e a música alucinada (Beethoven debaixo da guitarra do músico Daniel Cervantes) e as cores invernosas e a tensão muito própria dos desfiles – não foi pequena a surpresa entre os circunstantes de uma Modalisboa que aconteceu há vários meses (26ª edição, em Março último), mas que ganha [no] Inverno a actualidade certa. Agora, portanto.
Mal termina a apresentação, ainda os aplausos soam, trocam-se confidências. Alexandra Moura é muito talentosa, do melhor que temos em Portugal, opina alguém que faz produções de moda há mais de 15 anos e que prefere passar incógnito. E ali está ela. No paraíso de um trabalho aplaudido, que traz paz e equilíbrio aos dias frios de Inverno. Seguríssima, fala às televisões e agradece elogios, nos bastidores. Tem 33 anos, desde há quatro que se atirou para a frente, em nome próprio. É já incontornável na semana da moda de Lisboa. Desta vez, foi às culturas japonesa e tibetana. Evoca-as, com emoção e muito trabalho.
Em Março, quando assistimos à fase final de preparação das propostas Outono/Inverno, ainda Alexandra Moura andava às voltas com o livro "The Path Of Buddha", de Steve McCurry, um fotojornalista americano da mítica agência Magnum, colaborador da National Geographic. "Esta colecção é inspirada na pesquisa que fiz durante uma viagem ao Japão, no ano passado, e nas imagens deste livro, que mostram a cultura e as vestes tibetanas", explica a designer, afogada em trabalho, no seu atelier, que é também escritório e showroom, no centro de Lisboa. "Emocionei-me muito com o livro."
Na verdade, estamos num apartamento. A decoração é sóbria. No chão, revistas de moda, "i-D" incluída, o último disco dos The Gift, livros com fotos de homens quase nus, com casas, com objectos de decoração. Fuma-se, e muito, Lucky Strike. Um computador portátil toca Mazzy Star. As janelas do Messenger piscam e ela não pára de teclar com amigos e conhecidos. O telemóvel ainda descansa, mas é por pouco tempo.
Sejam bem-vindos ao caos que precede a entrada de um conjunto de peças de roupa numa passerelle. Aqui ainda não há moda, há só inquietação, uma luta no tempo, num espaço exíguo para as lucubrações da artista. A entoação da voz sobe à medida que se aproxima a hora da verdade. Primeiro, pausada e afectuosa. Depois, nervosa e arrebatada.
E ainda nem chegámos aos bastidores.
B.H.
Excerto do artigo publicado na "Vogue" de Janeiro de 2007 (com fotos de José Pedro Tomaz).