domingo, 7 de janeiro de 2007

Títulos de jornal dão dinheiro à PT

Notícia do Expresso:

De cada vez que as acções da PT começam a cair em direcção ao valor oferecido pela Sonaecom na oferta pública de aquisição (OPA) lançada a 6 de Fevereiro, surgem rumores e notícias na imprensa cujo efeito é, regra geral, positivo para a cotação. Esta evidência tem levado a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) a acompanhar de perto as transacções registadas na Bolsa desde que a OPA foi lançada. Desde então já passaram de mãos 1,088 mil milhões de acções, ou seja, 96,4% do capital da PT.

A conclusão sobre a existência, ou não, de manipulação das cotações só será tomada após terminar a OPA. Aliás, a CMVM já pediu inclusivamente o apoio da congénere norte-americana, a Securities and Exchange Commission (SEC).

A entidade de supervisão não tem dúvidas de que muitas dessas notícias têm como objectivo sustentar a cotação. O mesmo entendimento tem a Sonaecom. O presidente da CMVM, Carlos Tavares, referiu há cerca de uma semana que as notícias que têm surgido na imprensa podem configurar uma situação de manipulação do mercado. “Tem havido ciclicamente uma tentativa de sustentar os preços através de notícias”, afirmou num encontro com os jornalistas. Carlos Tavares lembrou o facto de muitos investidores institucionais terem comprado quantidades significativas de acções, o que justifica a elevada rotação de capital, além de se ter verificado a dada altura que cresceu a convicção de que a OPA vai para a frente mas por um preço mais elevado do que os 9,5 euros que a Sonaecom oferece.

Para verificar estas tentativas de manipulação “basta olhar para as cotações e relacionar as notícias”, disse Carlos Tavares. Foi o que o Expresso fez. De um total de 30 notícias relativas a movimentações para o lançamento de ofertas concorrentes ou a hipótese de revisão em alta do preço (das quais as mais importantes são referidas no gráfico acima), verifica-se que 75% tiveram um impacto positivo nas cotações. Em média, o valor da empresa subiu 0,5%, tendo em conta o dia em que a notícia saiu e o fecho do dia anterior. Antes da distribuição do dividendo, que aconteceu no final de Abril, essas notícias incidiram sobretudo no período em que as acções estavam abaixo dos 9,885 euros (correspondentes aos 9,5 euros da oferta mais o dividendo previsto de 0,385 euros). Após a distribuição do dividendo, parte das notícias sobre uma eventual oferta concorrente apareceram quando a cotação estava abaixo dos 9,5 euros.

Carlos Tavares já pediu, entretanto, à comunicação social para filtrar o que são de facto notícias e o que são meros rumores, de forma a evitar que os próprios jornalistas se deixem instrumentalizar.

Desde que a OPA foi lançada, já houve muitos potenciais candidatos identificados como estando a analisar a hipótese de uma OPA concorrente. Poucos dias após a OPA surgiram notícias de que os empresários Miguel Pais do Amaral e João Pereira Coutinho mantinham contactos com investidores financeiros com o objectivo de estudar o lançamento de ofertas concorrentes. Os dois acabaram por confirmar esses contactos através de comunicados enviados ao mercado por determinação da CMVM, a meio de Março.

Mas, de acordo com a imprensa, a lista de potenciais interessados incluiu, além dos maiores fundos de capital de risco do mundo, empresas como a sul-africana Telkom South Africa, a Etilasat, operadora de telecomunicações dos Emirados Árabes Unidos, Américo Amorim, Joaquim Oliveira ou mesmo Joe Berardo, além de o BES ser recorrentemente referido como o banco que financiaria essa operação.

As notícias mais recentes com impacto positivo na cotação surgiram a 21 de Dezembro, quando o ‘Diário Económico’ deu conta da hipótese de a Sonaecom aumentar o preço da OPA, o que levou as acções a subirem 1,02%, atingindo os 9,9 euros. Também no início de Dezembro o facto de Joe Berardo ter referido que foi contactado para se juntar a uma eventual oferta concorrente levou a cotação a subir, no espaço de dois dias, 1,34%.

Nesta OPA é possível também verificar uma fraca correlação entre as acções da Sonaecom e as da PT. Normalmente em operações desta natureza as empresas que tentam comprar têm tendência a descer - devido ao esforço financeiro que terão de fazer - enquanto as empresas alvo da oferta têm tendência para subir. Mas o que se tem verificado neste caso é que a Sonaecom também tem estado a subir significativamente - este ano acumulou ganhos de cerca de 40%, um desempenho que tem sido considerado surpreendente pela própria empresa e que poderá mostrar que há investidores que estão a jogar nos dois tabuleiros. Um deles é Joe Berardo, que poucos dias depois da OPA anunciou que estava a comprar acções da Sonaecom e que mais tarde, em Julho, começou a investir na própria PT.

Pedro Lima
Expresso, 1 de Janeiro de 2007