Crónica de Miguel Esteves Cardoso, no Expresso de 24 de Fevereiro:
A minha admiração pelos fumadores tem crescido desde que cobardemente deixei de fumar há dois anos. Haverá minoria mais acossada? Haverá perseguição mais legitimada por tudo o que é organismo? É tão violenta a propaganda que já é raro encontrar um fumador que não queira deixar de fumar e não se despreze um bocadinho por não conseguir.
Fumar em paz - até com a própria consciência - é uma actividade em vias de extinção.
Não é por deixar de praticar um desporto que uma pessoa se desinteressa dele e eu lá vou seguindo, com um mínimo de tristeza, as novidades do mundo do tabaco. Enquanto os charutos ainda são tolerados (porque, parafraseando selvaticamente Lenine, não fazem mal aos pobres), os cigarros já fazem parte de um mundo «underground», discutidos em áreas cada vez mais recônditas da Internet.
Os cigarros estão agora na situação fascinante da pré-ilegalidade, como a cocaína nos tempos entusiastas de Freud ou o LSD durante a primeira metade dos anos 60.
Mesmo em minha casa, apesar dos meus protestos (como entusiástico fumador passivo que sou), criam-se alegres células tabaqueiras de onde sou cruelmente excluído. Sempre que cá vêm as minhas filhas, por exemplo. Agrupam-se à volta de um cinzeiro com a minha mulher e puxam das bisbilhotices e das galhofas. Apenas oiço as risotas do fundo do corredor.
A exclusão tem dois sentidos. É bom lembrar isso. Os ex-fumadores, sobretudo, têm a obrigação moral de velar pelos direitos daqueles que ainda fumam. Ou virão a fumar.
Nem que seja pelo seguinte: verdadeira guerra não é entre fumadores e não-fumadores mas entre proibidores e não-proibidores. Há por aí muita coisa agradável cuja proibição facilmente se justificaria médico-socialmente. Se o tabaco for proibido, os proibidores avançarão para outras coisas. E depois de conseguirem proibir as mais óbvias (como o álcool), passarão às mais íntimas.
Pense numa coisa que gosta de fazer e que talvez possa fazer mal (ou somente não fazer bem) a si e/ou aos outros e/ou ao Planeta. Também há-de haver quem a queira proibir. Hoje é o tabaco; amanhã será isso tudo.
A minha admiração pelos fumadores tem crescido desde que cobardemente deixei de fumar há dois anos. Haverá minoria mais acossada? Haverá perseguição mais legitimada por tudo o que é organismo? É tão violenta a propaganda que já é raro encontrar um fumador que não queira deixar de fumar e não se despreze um bocadinho por não conseguir.
Fumar em paz - até com a própria consciência - é uma actividade em vias de extinção.
Não é por deixar de praticar um desporto que uma pessoa se desinteressa dele e eu lá vou seguindo, com um mínimo de tristeza, as novidades do mundo do tabaco. Enquanto os charutos ainda são tolerados (porque, parafraseando selvaticamente Lenine, não fazem mal aos pobres), os cigarros já fazem parte de um mundo «underground», discutidos em áreas cada vez mais recônditas da Internet.
Os cigarros estão agora na situação fascinante da pré-ilegalidade, como a cocaína nos tempos entusiastas de Freud ou o LSD durante a primeira metade dos anos 60.
Mesmo em minha casa, apesar dos meus protestos (como entusiástico fumador passivo que sou), criam-se alegres células tabaqueiras de onde sou cruelmente excluído. Sempre que cá vêm as minhas filhas, por exemplo. Agrupam-se à volta de um cinzeiro com a minha mulher e puxam das bisbilhotices e das galhofas. Apenas oiço as risotas do fundo do corredor.
A exclusão tem dois sentidos. É bom lembrar isso. Os ex-fumadores, sobretudo, têm a obrigação moral de velar pelos direitos daqueles que ainda fumam. Ou virão a fumar.
Nem que seja pelo seguinte: verdadeira guerra não é entre fumadores e não-fumadores mas entre proibidores e não-proibidores. Há por aí muita coisa agradável cuja proibição facilmente se justificaria médico-socialmente. Se o tabaco for proibido, os proibidores avançarão para outras coisas. E depois de conseguirem proibir as mais óbvias (como o álcool), passarão às mais íntimas.
Pense numa coisa que gosta de fazer e que talvez possa fazer mal (ou somente não fazer bem) a si e/ou aos outros e/ou ao Planeta. Também há-de haver quem a queira proibir. Hoje é o tabaco; amanhã será isso tudo.