segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Mário Mequita deixa de ser cronista no Público porque se sente indesejado

Mário Mesquita disse este domingo adeus ao "Público" com uma crónica amarga, onde acusa o director do jornal de o considerar uma voz "inconveniente". Na íntegra:

O director deste jornal, José Manuel Fernandes, manifestou-me esta semana as suas dúvidas acerca da compatibilidade entre as funções de membro do Conselho Executivo da Fundação Luso-Americana, que vou assumir em breve, e a condição de colunista do Público. Do meu ponto de vista, não me parece haver qualquer incompatibilidade no plano ético ou jurídico. Existem, felizmente, nos jornais portugueses, colunistas que desempenham funções políticas, partidárias, religiosas, associativas, empresariais e outras, o que só contribui - presumo - para assegurar o pluralismo e a diversidade no espaço público. O próprio Presidente do Conselho Executivo da FLAD é colunista regular do Diário de Notícias. Permiti-me mesmo ironizar, dizendo qualquer coisa como isto: "Por acaso, até me parece que V. é mais pró-americano do que eu...".
José Manuel Fernandes comunicou-me que tencionava consultar o Conselho de Redacção sobre o assunto. Não sei se já teve ocasião de o fazer. Em todo o caso, após alguma meditação, decidi solicitar, desde já, a rescisão do contrato que me liga ao Público até Dezembro do corrente ano. Não por considerar que exista incompatibilidade ou conflito de interesses, mas por deduzir que o director do Público considera inconveniente a minha colaboração no jornal. E isso é quanto me basta: não gostaria de continuar a escrever num jornal onde a minha presença não é desejada.
Esta coluna começou a ser publicada em Dezembro de 1998, o que significa que possui mais de 8 anos de existência. Gostaria de tê-la prolongado até ao 10° aniversário, mas não foi possível. Ao contrário de muita gente, não tenho ilusões sobre o poder de influência dos artigos de opinião publicados na imprensa, que considero limitado, nem aceito a validade científica do conceito de "opinionmaker", que me parece corresponder aos paradigmas da comunicação em vigor durante a Segunda Guerra Mundial. Não escrevona perspectiva do "fazedor de opinião" (ou, como se diz em linguagem corrente, tendo por objectivo de "fazer a cabeça dos outros"), ideia que me parece duplamente negativa (para quem lê, mas igualmente para quem escreve), mas com o objectivo de partilhar opiniões e de contribuir para o debate público.
A terminar esta colaboração dominical, transmito, aos leitores regulares, irregulares ou casuais, a minha gratidão, com especial destaque para os que - concordando ou discordando dos meus pontos de vista - manifestaram, de viva voz ou por escrito, a sua opinião. Desejo igualmente agradecer a todos os directores, editores, jornalistas, secretárias e outros trabalhadores do Público, a eficiência e simpatia com que sempre me ajudaram a cumprir a minha (modesta) tarefa. Parafraseando Ed Murray, boa tarde e boa sorte.

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