domingo, 21 de outubro de 2007

Transexuais com dificuldades de expressão

Na revista Time Out Lisboa de 10 de Outubro. Excerto:

Irina é muito perversa. “Ponho-me nua nas retretes e todos os cossacos vêm possuir-me”, diz à mãe. Mas a mãe, que responde por um nome um tanto assexuado, Simpson, tem um coração de pedra e já não se impressiona com as barbaridades da filha. Uma e outra carregam um passado muito pesado. Simpson era um homem. Irina também. Agora, são mulheres. Foram deportadas para a Sibéria, depois de terem mudado de sexo em Casablanca. Como podem, então, ser mãe e filha? Irina tem aulas de piano com a senhora Garbo, que a ama perdidamente. Mas Simpson não grama a ela. Um dia, a professora, que já foi mulher e agora tem um sexo de homem, entra-lhes pela casa dentro. Fica a saber que Irina está grávida (quem será o pai?) e inicia um bate-boca fatal com Simpson.

(...)
O Homossexual ou a Dificuldade em Exprimir-se é um autêntico novelo. As personagens vivem na solidão, enganam-se umas às outras e enganam quem as ouve. “Podemos conversar o tempo que quiser, não são as palavras que mudam o mundo”, diz Garbo. É tudo tão complicado que até o nome da peça só serve para confundir. Porquê “homossexual” se o que vemos em palco são três transexuais? Nem o encenador, Luís Castro, também fundador e director da Karnart, a companhia que leva a peça a cena, tem resposta.

O texto, de 1971, foi escrito por Copi (1939-87), um autor e cartunista argentino que fez carreira em Paris e cujo nome verdadeiro é Raúl Damonte Botana. Luís Castro, descobriu-o há uns três anos, quando lhe ofereceram o livro, na versão original francesa. Apaixonou-se e fez a tradução. Mas não consegue explicar o título. Dzi que se trata de um texto "muito irónico e sagaz". E e tudo. Perante outras dúvidas, justifica: “Isto raia o chamado teatro do absurdo, não há coerência em termos lógicos e através dele o público pode navegar à-vontade.”Bruno Horta


O Homossexual ou a Dificuldade em Exprimir-se, Espaço Karnart, R. Escola de Medicina Veterinária, 21, Lisboa. De 15 de Outubro a 23 de Novembro, 22h. Bilhetes 12,50€.