domingo, 18 de maio de 2008

Fantasias gay

No "Público" (caderno "P2") de 17 de Maio; excertos:

Chama-se Labyrinto e é o primeiro espaço exclusivamente para a prática de sexo entre homossexuais masculinos. Abriu portas há quase um mês no centro de Lisboa, mas é contestado por quem mora na zona

O porteiro vai à frente, com uma lanterna de luz azul na mão. Atrás, seguem três homens na casa dos trinta anos, com camisas às riscas e calças cremes. O porteiro demora-se nas explicações, usa um tom de voz baixo, responde a todas as perguntas. "Aqui são os gabinetes privados, ali fica a casa de banho." Eles são novatos nisto. Andam a conhecer os cantos à casa, nota-se que nunca estiveram num sítio assim. O que perguntam é a medo, fogem de trocar olhares com outros homens. Mas estão aqui.

Se querem passar despercebidos, escolheram bem a ocasião. Nesta segunda-feira à noite, no clube de sexo Labyrinto, não há muita gente. Dissemos clube de sexo. E é em Lisboa que estamos. Clube de sexo gay, só para homens, inaugurado há menos de um mês, na Rua dos Industriais, a dois passos da Assembleia da República.

Em Madrid, há seis casas do género; em Paris, 14; em Berlim, 19; em Londres, nove - de acordo com a informação não exaustiva da edição do ano passado do Spartacus, o principal guia turístico gay do mundo. Em Lisboa, nunca tinha havido nada semelhante. Dentro deste género de espaços, o que a capital conhece há vários anos são as saunas gays e quartos escuros (espaços de sexo em discotecas e bares homossexuais).
(...)
Por estes dias, personagens como estas são o que mais se encontra no Labyrinto. Os empregados garantem que as sextas e sábados têm sido dias de casa cheia. Mas pelo que P2 observou, incluindo um sábado à noite, e pelos relatos que colheu junto de alguns clientes, enchentes é coisa que não tem havido. São poucos os homens que, para já, se aventuram. E os que o fazem andam ainda de um lado para o outro, sozinhos ou em visita guiada, a espreitar, a abrir e a fechar portas, a subir e a descer escadas. A tentarem ambientar-se a um espaço novo como este.Foi talvez a novidade que transtornou a vizinhança. Desde há vários dias corre um abaixo-assinado contra o Labyrinto, soube o P2, sem, no entanto, ter tido acesso ao documento ou a quem o promove. Alegadamente, as pessoas reclamam o encerramento do espaço por o acharem inapropriado numa rua onde há famílias com crianças.

Os responsáveis pelo clube de sexo, dois empresários portugueses de 31 e 35 anos, que não querem ser identificados, têm conhecimento do abaixo-assinado, mas defendem-se, alegando que os clientes apenas praticam sexo no interior e que a entrada do sítio é discreta - apenas um placa, como o nome do estabelecimento. Aventam a hipótese de estarem a ser alvo de discriminação em função da orientação sexual da clientela, mas não quiseram alongar-se em comentários.

Do ponto de vista legal, não há certezas sobre se o Labyrinto pode ou não ter porta aberta.
(...)
Dois juristas, contactados pelo P2, que preferem não ser identificados, dizem que à partida não há problema - desde que os clientes sejam maiores de idade e não haja fomento à prática de prostituição no interior. Um dos juristas, próximo de uma associação de defesa dos direitos dos homossexuais, acrescenta que o Labyrinto está em pé de igualdade com outros estabelecimentos de sexo heterossexual que existem há anos em Portugal. A associação gay Ilga Portugal não quis pronunciar-se sobre o aspecto legal. Bruno Horta