sábado, 21 de junho de 2008

Voltas à pista, até o caos chegar

Há dois anos, propus a uma editora portuguesa um livro de reportagens sobre automóveis, qualidade de vida nas cidades e fim do petróleo. O editor, que não me conhecia de lado nenhum, leu a proposta, mandou-me ir falar com ele e disse que a ideia só tinha pernas para andar se se arranjasse um dispositivo narrativo atraente. "Como por exemplo?", perguntei. "Contar as histórias do livro através de uma figura pública, como o Marcelo Rebelo de Sousa", respondeu ele.
Conclusão: o editor não tinha lido a proposta com atenção. Essa coisa do dispositivo narrativo estava obviamente lá, não estava era sob a forma de revista cor-de-rosa. Conclusão mais grave: o editor, como muita gente, queria (hoje já não sei se quereria) brincar com coisas sérias. A minha proposta não passou da fase de projecto.
Aliás, ainda agora, com a crise a estalar à frente dos olhos, toda a gente quer ignorar que ela se aproxima. Que mundo será este sem petróleo ou com petróleo racionado? Quantas falências, quanto desemprego, quanta desordem civil?
Entre Março e Novembro deste ano, há 18 circuitos de Fórmula 1 para percorrer. Ou seja, milhões e milhões de litros de petróleo deitados ao ar, sem qualquer préstimo. Esta infografia choca.
Enquanto a maioria se comportar como o editor de livros ou as equipas de Fórmula 1, estamos tramados.