quarta-feira, 11 de março de 2009

Al Berto vai ao teatro

Durante uma hora e meia, em cima de um estrado azul, andam dois actores: Ana Lúcia Palminha e Pedro Gil (é a primeira vez que contracenam os dois). Ela tem tanto de bom e de mau, como de masculino e feminino. Ele, que está em casa, já enlouquecido pela solidão, deixa-se seduzir e troca de género. Um e outro confundem-se, deixam de ser personagens e passam a ser o poeta Al Berto. Essa transmutação faz-se no escuro, numa tensão constante, ao som da música de David Bowie, Velvet Underground e Einstürzende Neubauten.

Para não quebrar a surpresa, só podemos revelar isto. A peça chama-se A Noite e tem estreia marcada para esta quinta-feira, 12, na sala estúdio do Teatro D. Maria II. Trata-se de uma criação do grupo de teatro O Bando, encenada por João Brites. A Noite tem por base vários textos de Al Berto (1948-1997), autor de culto para muitos gays e um dos mais conhecidos poetas portugueses do século XX. Tornou-se célebre à conta dos relatos literários sobre a marginalidade, social e homossexual, que viveu durante os anos do exílio em Bruxelas, entre 1967 e 1974.
(...)Para os “albertianos” mais fanáticos é bom dizer que a peça abre com excertos de uma curiosa gravação áudio feita em Janeiro de 1992, em Coimbra, durante uma sessão de poesia em que Al Berto participou. Essa gravação, revelada pelo blogue Frenesi em 2007, mostra um Al Berto já bebido a quem o barulho e a indiferença da assistência enchem de raiva (“Vocês são mesmo ordinários, foda-se”, diz o poeta).
[Time Out Lisboa, hoje; aqui]