sábado, 14 de março de 2009

A publicidade não gosta de homossexuais?

Será que o encerramento da revista gay Com' Out prova que a publicidade discrimina em função da orientação sexual? Os responsáveis pela publicação dizem-se vítimas da crise e dos preconceitos dos anunciantes. Mas quem conhece o meio publicitário diz que o problema está na homofobia dos consumidores e na qualidade da publicação.

Ao fim de oito meses e outras tantas edições, desapareceu a única revista gay periódica em Portugal. (...) Duas razões tornaram a Com' Out inviável, de acordo com aquela responsável: a crise, que dificulta a captação de publicidade, e a homofobia por parte das marcas, que se recusavam a comprar espaço publicitário numa revista de temática homossexual. "Alguns anunciantes não queriam associar-se ao segmento de mercado gay e ora assumiam que não queriam, ora contornavam com desculpas", acusa Elisabeth Barnard.

(...) Paulo Côrte-Real, presidente da ILGA, associação de defesa dos direitos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros), acredita que sim. "Não me surpreende nada que tenha sido isso que levou ao fim da revista. Há homofobia na sociedade portuguesa, incluindo nos anunciantes." Um publicitário contactado pelo P2, que prefere não ser identificado, garante que, "mesmo em Portugal, o mercado gay é um nicho monstruoso e um alvo apetecível para marcas de turismo, de produtos de beleza e moda". Por isso, levanta a dúvida: "Se houvesse graves problemas de publicidade na Com' Out, a revista não teria durado oito meses".

(...) "As empresas podem não querer publicitar numa revista gay, tal como não querem, por exemplo, na revista Maria, que por acaso há anos que é um sucesso de vendas. Tudo depende das características de um produto e das características dos leitores do meio de comunicação através do qual se quer comunicar esse produto", diz a responsável por uma associação de empresas de marketing.
Quer isto dizer que nunca há comportamentos homofóbicos na publicidade? Não. Um publicitário garante que "há marcas que não se querem associar a minorias sexuais, porque desconfiam que com isso vão perder a clientela heterossexual". (...) A opinião é corroborada por Victor Medina, chefe de redacção da revista gay espanhola Zero. O jornalista reconhece que "a crise económica afectou as marcas de luxo, que são as que tradicionalmente investem" nas revistas gays. Apesar disso, garante ao P2, sem dar exemplos, que actualmente "certas marcas se negam a publicitar". "Creio que na sua maioria o fazem para conquistar mercado num segmento maioritário, isto é, heterossexual, precisamente porque nos últimos anos se associaram muito à realidade gay".
[no Público (suplemento P2), ontem]