«Ao fim de 37 anos, depois de um milhão de soldados recrutados, 10 mil mortos e 30 mil feridos, o país continua sem saber ao certo quantos antigos combatentes ainda vivem com doenças psicológicas. E descobre agora que muito menos sabe quantos ainda vivem limitados com ferimentos físicos.
Uma equipa envolvendo o Ministério da Defesa, o Instituto Superior de Tecnologias Avançadas (ISTEC), a Academia Militar, a Escola do Serviço de Saúde Militar, o Centro de Psicologia Aplicada do Exército e o Arquivo Geral do Exército e com elementos das áreas da psicologia, sociologia, direito, engenharia e economia, dedicou-se durante dois anos a este tema e encontrou uma realidade diferente da imaginada. O grupo partiu para cerca de dois anos de trabalho com a ideia de que a guerra colonial provocou níveis significativamente elevados de doença de stress pós-traumático crónico […]. O grupo encontrou, num conjunto de 3020 queixas de ex-combatentes do exército, todas com decisão superior, casos de doença de stress pós-traumático crónico que não passam os nove por cento do total, enquanto mais de metade, 52 por cento, reportaram ferimentos simples não tratados (36 por cento) ou múltiplos (16 por cento).
[…] “É o fim de um tabu. Os ferimentos físicos são a grande queixa, não o stress crónico”, diz João Andrade da Silva, coronel na reserva e coordenador do trabalho.»
Reportagem "A guerra deixou mais estilhaços e menos stress do que se pensava", de Lurdes Ferreira, revista Pública, hoje.