Wadah Khanfar
Ninguém sabe os porquês da saída do director-geral da Al Jazeera (uso aqui a grafia inglesa que o próprio canal adopta). "I am moving on", anunciou Wadah Khanfar a 20 de Setembro, via Twitter. Dirigiu a estação durante oito anos, os anos da consolidação da Al Jazeera como a mais importante cadeia televisiva de notícias. E agora foi-se embora sem explicar porquê. No lugar dele foi plantado um homem do petróleo e do gás natural, xeique Hamad Ben Al-Thani, membro da família real do Qatar (ou Catar).
O New York Times insinuou logo no dia 20 que a saída de Wadah Khanfar está relacionada com o alegado favor que o director-geral fez aos EUA, no sentido de suavizar a cobertura jornalística da invasão americana do Iraque, em 2005 (favor que terá sido recentemente revelado pelo Wikileaks).
Uma outra versão foi apresentada na Al Jazeera. Wadah Khanfar teria saído no quadro de um processo normal de renovação. "A independência é o nosso principal valor. Nunca alterámos a nossa política editorial, nem mesmo quando os americanos bombardearam as nossas delegações ou quando jornalistas nossos foram presos por regimes árabes autoritários", disse Khanfar, em resposta aos que acusam os donos da estação (família real do Qatar) de o terem despedido devido à forma como a Al Jazeera instigou e apoiou as revoltas árabes dos últimos meses, promovendo a mudança no Egipto e na Líbia, e ignorando a revolta no Bahrain (país vizinho do Qatar). "A exigência do público é a garantia da nossa integridade", acrescentou.
Thierry Meyssan, jornalista engajado e por vezes teórico da conspiração, levanta a lebre: Khanfar não foi despedido, saiu porque já tinha o serviço despachado. Qual serviço? Ajudar à queda de Khadafi na Líbia, país no qual o Qatar e os EUA têm interesses petro-políticos.
Segundo Meyssan, Khanfar é membro do grupo radical islâmico Irmandade Muçulmana e terá chegado a director-geral da Al Jazeera por intermédio de Mahmud Jibril, fundador da consultora de comunicação JTrack e membro do governo de Khadafi entre 2007 e 2011. Mahmud Jibril, que também fará parte da Irmandade Muçulmana, é agora primeiro-ministro interino da nova Líbia. O director-geral da Al Jazeera pode ir à sua vida. Missão cumprida.
Faz sentido?