sábado, 26 de novembro de 2011

As contas de VPV

Vasco Pulido Valente, numa entrevista ao Público de 21 de Novembro:
"Era preciso fazer uma classe média para sustentar o regime e empregou-se a classe média no Estado. [...] Empregou-se aquela gente a eito. Por isso é que nós temos 700 mil funcionários. [...] Criou-se o homem irresponsável, o homem que não tem que pensar no que vai suceder amanhã porque tem tudo pago. Está lá o Estado. [...] Isto é um lugar-comum na Europa." 

Esta análise classista e elitista faz por ignorar que foram os funcionários públicos que deram corpo às classes médias europeias, e foram estas que alimentaram os Estados com o dinheiro dos seus impostos. E foram as classes médias que permitiram à Europa viver em economia de mercado. E são as classes médias que estão a pagar a crise.

Vasco Pulido Valente esquece-se de uma outra coisa: Portugal tem menos funcionários públicos do que os outros países da OCDE.

Temos cerca de 700 mil no sector público, é verdade:


Mas quando se compara Portugal com os restantes países da OCDE, os 700 mil são uma gota de água: estão muito longe de representar sequer um quarto do total de trabalhadores em Portugal.

Em 23 países analisados em 1997, 15 tinham muito mais funcionários públicos do que Portugal em comparação com o total de empregos:
("MEASURING PUBLIC EMPLOYMENT IN OECD COUNTRIES: SOURCES, METHODS AND RESULTS", OCDE, 1997)

Ao contrário do que diz Vasco Pulido Valente, o peso do funcionalismo público no mercado de emprego não é um fenómeno europeu. 

Assim como assim, há outra maneira de fazer funcionar um Estado sem funcionários públicos?