domingo, 20 de novembro de 2011

Perspectivas

Costuma escrever notícias mais rigorosas e interessantes quem está bem distanciado. Não tão distante que não perceba nada dos temas noticiados. Mas não tão perto que veja tudo desfocado.

Não por acaso, os assessores de imprensa gostam de dar aos jornalistas informação em excesso. Depois de enviarem por correio, ou de entregarem em mão, uma pasta com fotografias e comunicados de imprensa, enviam a mesma coisa por email e telefonam a perguntar se chegou tudo bem e ainda indicam, por telefone, um site que se pode visitar para recolher mais informação e dão um contacto telefónico de alguém que, se for mesmo preciso, é capaz de tirar dúvidas.

Os assessores de imprensa são uns empatas. Sempre disponíveis para dar palha e sempre lentos na resposta ao que realmente importa.

Este excesso de informação (e de gentileza, diga-se) concorre para um objectivo óbvio: a notícia que resulta da abundância é menos focada, logo, menos crítica; é uma notícia perdida em citações e fontes de segunda grandeza, logo, menos objectiva. O trabalho das assessorias em todo o seu esplendor, motivo para os jornalistas  não se aproximarem muito desta gente.

Quando leio os dois primeiros parágrafos desta notícia do NYT de hoje fico a saber mais do que em quatro ou cinco notícias do mesmo teor dadas pelos jornalistas portugueses. Aqui deve ter havido mais trabalho do que assessoria de imprensa:

«The world-turned-upside-down of the European debt crisis reached a new extreme last week when Europe came pleading for lucre where it once only seized it: Africa.
The hands-out visit on Thursday of Prime Minister Pedro Passos Coelho of Portugal to its former colony Angola — once a prime source of slaves, then a dumping ground for the mother country’s human rejects and now swimming in oil wealth — was a milestone of sorts.»