sábado, 14 de abril de 2012

"A minha caixa de madeira estava sempre aberta e nunca me faltou nada"

"Junto de mim estavam dois carteiristas. A um deles chamavam-lhe O Americano, porque de cada vez que vinha uma esquadra americana ao Tejo ele fugia da colónia disciplinar e vinha para o Cais do Sodré gamar carteiras aos americanos. E depois voltava, era penalizado, etc. Ao lado, estava outro que também era carteirista. E a minha caixa de madeira, debaixo da cama, com tudo aquilo que eu tinha, inclusive dinheiro, estava sempre aberta e nunca me faltou nada. [...] Havia um código de conduta entre nós [...] que era respeitado. Vejo muita gente que é considerada séria e que deve ter um estatuto menor do que o daqueles vigaristas com quem eu estive a lidar. [...] As pessoas não podem ser classificadas a preto e branco. Há toda uma avaliação da personalidade e do comportamento das pessoas que tem de ser feita independentemente dos seus sinais exteriores ou mesmo de alguns actos condenatórios que fizeram."
Historiador e político José Manuel Tengarrinha sobre a sua passagem pela Colónia Penal de Penamacor, em entrevista à Antena 1 emitida a 12 de Abril de 2012 (a partir do minuto 10).