terça-feira, 1 de maio de 2012

Cinema português no seu pior


Primeiro: uma mulher acabou de ter sexo com um homem, mas tem os lábios cheios de batom como se tivesse acabado de se maquilhar. Segundo: um homem tem um sobretudo vestido, guia um carro à beira-mar ao cair da noite, mas leva a capota aberta. Terceiro: uma mulher vive sozinha com o filho numa casa enorme só que à noite tem todas as luzes de casa acesas.

A isto se resume Em Segundo Mão, de Catarina Ruivo, filme hoje exibido no cinema Londres, em Lisboa, no âmbito do festival IndieLisboa. Uma história cheia de inverosimilhanças, que pretende ser feérica e filosófica, mas é apenas rasteira. Cinema de plástico, apetece dizer.

As personagens moram em casas assépticas e vestem roupas que não combinam com os seus corpos e os seus habitats. Os códigos de linguagem são deslocados da classe social das personagens. O velho escritório de um editor de livros não é mais do que um cenário montado. Nada aqui é verdade. 

Deve dizer-se que a fotografia e a iluminação estão bonitas e compostinhas. Mas para quê se a história é ridícula e não tem ponta por onde se lhe pegue? A plástica não salva o plástico.

Porque é que me incomoda a "inverdade" deste filme? Porque acho que a realizadora tenta investir num resultado contrário ao obtido e sobretudo porque estou cansado dos artistas portugueses actuais, muito preocupados com as suas carreiras e diarreias mentais, mas incapazes de falar da vida, do mundo, das pessoas e do momento. A arte portuguesa em estado de infantilidade, portanto.

Há uma crise mundial, Portugal está falido, o desemprego atinge valores históricos, há cada vez mais suicídios, é cada vez mais difícil arrendar casa e as pessoas ganham cada vez menos. Os artistas portugueses o que é que fazem? Além de pedirem subsídios ao Estado, entretêm-se nas suas "criações" a falar de neuroses. Vão longe.