domingo, 9 de setembro de 2012

A revolução de identidade que nasce com Andrej Pejic


É um rapaz mas parece uma rapariga e quando tem de entrar numa casa de banho pública desafia as convenções. O bósnio Andrej Pejic cresceu num campo de refugiados, era gozado na escola e agora tem os estilistas a seus pés. É uma celebridade da moda. E mesmo que não saiba está a anunciar uma revolução. Por Bruno Horta


É louro, tem olhos verdes e pele branca como a neve. Mede um metro e 88, calça o 41 e fez 21 anos a 28 de Agosto. É por agora o mais poderoso ícone da indústria da moda. Apareceu com uma rosa na boca nas páginas centrais da Vogue Paris. A marca holandesa Hema fez dele protagonista num anúncio de soutiens. O estilista Jean Paul Gaultier adoptou-o como musa e tem-no feito desfilar por várias vezes com roupa de homem e de mulher, incluindo um vestido de noiva em alta-costura.

Quando já se fala em mundo pós-gay, por via do acesso universal ao casamento e à parentalidade (adopção, co-adopção e procriação medicamente assistida), Pejic aparece para abalar o conforto das grandes certezas. É uma menina num corpo de homem, rapaz em corpo de mulher, espírito à solta que pede classificação urgente – o que é inútil e impraticável.



[excerto de entrevista publicada no suplemento Quociente de Inteligência (QI), do Diário de Notícias de 8 de Setembro de 2012; pp. 18 e 19; aqui sem a grafia do Acordo Ortográfico de 1990]