sexta-feira, 1 de março de 2013

António Variações: primeiro disco foi há 30 anos


“À Amália, que sempre me deu e fez sentir a importância duma verdadeira identidade.” É com esta dedicatória na contracapa que em 1983 sai para as lojas o primeiro álbum de António Variações, Anjo da Guarda. Não há uma data oficial da edição, mas Eliana Bernardes, do arquivo da editora, a Valentim de Carvalho (VC), garante à Time Out que terá sido em inícios de Março. O mesmo recorda Paulo Seco, então promotor da VC.
 
Trinta anos depois, quase todas as dez canções de Anjo da Guarda ganharam um lugar na história da música portuguesa. “O Corpo é Que Paga”, “É P'ra Amanhã”, "Estou Além” e “Voz-Amália-De-Nós” são apenas algumas.

Ícone gay do século XX português, António Variações (1944-1984) tinha publicado em
1982 o maxi-single “Povo que Lavas no Rio”, um êxito que o “torna aceite pela elite de Lisboa e pelas gentes dos bairros populares”, escreve a sua biógrafa, Manuela Gonzaga, em Entre Braga e Nova Iorque (2006).
 
No ano seguinte, grava nos estúdios da Valentim de Carvalho, em Paço D'Arcos, o longa-duração de estreia. Os produtores são José Moz Carrapa, Ricardo Camacho
(que se juntaria aos Sétima Legião), Vítor Rua e Tóli César Machado (ambos dos GNR).

“Ninguém cantava assim, aquilo não se parecia com nada, não era fado, nem música popular, nem de intervenção. Também não era rock. Era uma coisa muito arabizante”, diz Vítor Rua, citado por Manuela Gonzaga.

Em fins de Março de 1983, o jornal Se7e classificava o álbum como “estranho, provocador e misterioso”. No mesmo jornal, numa das poucas entrevistas que então deu, o cantor fala pouco sobre o disco e muito dos seus gostos e ideias. Sobre a homossexualidade: “É apenas uma opção sexual. Deve ser assumida por quem pratica e respeitada pelos outros.”

O segundo e último álbum de Variações, Dar & Receber, sairia em 1984.

[texto publicado na Time Out Lisboa de 27 de Fevereiro de 2012, p.65]