Bruno Horta escreve sobre o novo filme de Xavier Dolan. Mamã é um retrato de inquietação no subúrbio. Estreia esta quinta-feira.
Os
slogans são sempre enormes resumos e por isso podem também ser enormes
equívocos. “Não há amor como o amor de mãe”, diz o cartaz. E quem o ler
pensará que Mamã, filme de Xavier Dolan com estreia portuguesa esta quinta-feira, dia 11, conta a história de uma mãe (vai muito além). Ou que Mamã é uma história amorosa e há redenção (não há redenção alguma).
Mamã
é sobre homossexualidade e doença mental. Sobre uma mãe, sim, e mais
ainda sobre um filho apaixonado por ela, incapaz de reconhecer o lugar
natural, pronto a tomar-se seu amante. Não é sobre o incesto. Será,
quando muito, sobre o que se convencionou chamar Complexo de Édipo.
Um
filme em torno de “uma crise existencial”, resume o realizador. Uma
evocação distante, com humor, mesmo se negro, de Desejos Selvagens
(2007), de Tom Kalin, com Julian Moore no papel da mãe incestuosa que
leva o filho à loucura.
[excerto de artigo publicado na Time Out Lisboa de 17 de Dezembro de 2014, p. 78]