domingo, 15 de outubro de 2006

A América diz o que pensa

FACTOS
Na revista Pública de hoje.

É uma espécie de blog aberto ao público. Quem tiver as opiniões mais populares recebe dinheiro.

Aqui, encontra-se de tudo. “O casamento entre homossexuais é como as bibliotecas públicas: favorece o movimento de luta pelos direitos cívicos”. “A melhor forma de os congressistas prestarem atenção ao povo é acabar de vez com os lóbis. Ilegalizem os lobistas”. “Uma das prioridades da humanidade deve ser a de verificar se somos os únicos seres na Galáxia”. De opinião em opinião, de tema em tema, de foto em foto, as viagens pelo site gather.com são intermináveis. E há cada vez mais gente a fazê-las.

Não é um blog ou um jornal on-line. Não é uma revista especializada ou um motor de busca. É um pouco disso tudo. Pode dizer-se, usando a linguagem dos teóricos da Internet, que é uma “rede social online” (online social network), parte integrante de um conceito mais vasto conhecido por Web 2.0 (a segunda idade da Internet: mais participada do que no início, feita a pensar no utilizador, infinita na troca de dados e nas oportunidades de negócio).

A empresa tem sede em Boston e na sua origem estão dois empresários: Tom Gerace, formado em ciências sociais, e Bill Kling, fundador da American Public Media, a rádio pública americana. São ambos administradores executivos. O director do site é, imagine-se, Bill Bradley, antigo basquetebolista e senador democrata, que há seis anos se candidatou à presidência americana.

Numa entrevista por e-mail, Tom Gerace explica que o Gather “é um lugar onde cidadãos de todo o mundo, adultos e informados, podem partilhar e explorar interesses e paixões comuns”. A palavra “adultos” é muito importante para ele, já que, neste caso, não lhe interessa a geração de jovens cibernéticos, que se juntam aos milhões em torno MySpace.com. O alvo aqui são os mais velhos, embora a lógica seja a mesma do MySpace.

A novidade do site é a de que quem publica coisas pode ser remunerado (já se faz o mesmo nos blogs, com o Google AdSense ou o blogsvertise.com). Em dinheiro, se for essa a vontade do utilizador, ou em pontos convertíveis em livros, hambúrgueres e electrodomésticos em grandes lojas americanas. Tudo depende da quantidade de visitas e comentários a cada texto. Quem tiver mais, recebe mais.

O número de pessoas registadas é coisa que o administrador não diz. O número de visitantes (page views) e o lucro obtido no último ano também ficam em segredo.

O site está organizado por grupos temáticos. Há mais de 200. Uns com quarto membros, outros com mais de 300. São quase todos americanos. De Nova Iorque, muitos. Mas também há dinamarqueses, indianos, palestinianos, egípcios, australianos, ingleses. Toda a gente escreve em inglês.

De cada um sabe-se o nome com que se registou e a cidade onde vive. Há quem publique a sua própria foto e há quem mostre uma foto do Batman ou do animal de estimação.

No grupo All Things Japanese alguém recomenda cinco hotéis em Tóquio por menos de 80 dólares por noite. E nos grupos sobre viagens fala-se, entre outras coisas, da comida portuguesa, da poncha madeirense, do Bairro Alto e do fado. Dan Brown, Richard Branson, Elvis Presley e Bush são visados com frequência.

“Ao contrário dos blogs, que têm uma natureza solitária e, muitas vezes, não permitem o diálogo, o nosso site estimula a interacção”, argumenta Tom Gerace. “O número de comentários diários é dez vezes superior ao número de artigos publicados”.

B.H.