Francesca Woodman; sem título, Boulder, Colorado, 1976; cortesia George and Betty Woodman
No "Público" de 24 de Julho:
Francesca Woodman viveu atormentada pela dúvida. Parecia uma adolescente normal, deslumbrada pela fotografia, mas aos 22 anos quis acabar com tudo. Atirou-se da janela do loft onde vivia, no bairro nova-iorquino de East Village. "Ela andava à procura da normalidade e da segurança das rotinas, mas só tinha a arte, a dúvida constante, a solidão, a insegurança e a obsessão próprias de quem quer superar a própria vida", escreve a amiga Betsy Berne, no livro Francesca Woodman, da autoria de um professor da Universidade de Londres, Chris Townsend, recentemente publicado pela editora Phaidon e com 130 fotografias inéditas de Woodman.
Diane Arbus viveu aprisionada pelas convenções. E pelos fantasmas interiores. "Penso sobre o que quero fazer e o entusiasmo tira-me o fôlego. Mas, de repente, a energia desaparece, deixando-me incomodada, afundada, enlouquecida e assustada pelas mesmas coisas de que julgava estar desejosa", escreveu ela, numa carta a uma amiga, em 1968. Três anos depois, aos 48, deixaria que a fragilidade a arrastasse. Em casa, em Greenwich Village, Nova Iorque, engoliu vários comprimidos para dormir, entrou vestida na banheira e cortou os pulsos. Parte da sua vida está no filme Fur - Um Retrato Imaginário de Diane Arbus, de Steven Shainberg, com Nicole Kidman como actriz principal. A estreia no cinema foi em Março e o DVD chega hoje a Portugal.
Comparadas as biografias, não foi só na tragédia que coincidiram as duas mulheres. Apesar de nunca se teram conhecido, Woodman (1958-1981) e Arbus (1923-1971) disparavam a máquina fotográfica da mesma forma - para captar a tormenta, delas e do mundo. Além disso, unem-nas várias coincidências: Woodman começou a fotografar em 1971, ano em que Arbus se suicidou. Arbus teve a primeira filha (Doom; terá uma segunda, Amy) aos 22 anos, idade com que Woodman pôs termo à vida.
Os temas que escolheram são diferentes, tal como as máquinas que usaram a maior parte do tempo: uma Yashica Reflex, no caso de Woodman, e uma Rolleiflex de lente dupla, no de Arbus. Woodman autoretratou-se. "Não tem frio nos olhos, está despida como ninguém, decidiu perturbar o sonambolismo humano", diz dela o escritor e ensaísta francês Philippe Sollers. Arbus andou na rua atrás da diferença. "Mudou a forma como os americanos se viam durante os muito repressivos anos 50, elevando anões e travestis a temas fotográficos respeitáveis", explica ao P2 Shelley Rice, professora de Estética da Fotografia na Universidade de Nova Iorque.
Ainda assim, uma e outra deixaram uma obra onde "não há complacências face ao disforme, à monstruosidade ou à doença", conclui Sollers num texto do catálogo da única exposição de Francesca Woodman em Portugal, organizada em 1999 pela Fundação Cartier no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
artigo completo
Francesca Woodman viveu atormentada pela dúvida. Parecia uma adolescente normal, deslumbrada pela fotografia, mas aos 22 anos quis acabar com tudo. Atirou-se da janela do loft onde vivia, no bairro nova-iorquino de East Village. "Ela andava à procura da normalidade e da segurança das rotinas, mas só tinha a arte, a dúvida constante, a solidão, a insegurança e a obsessão próprias de quem quer superar a própria vida", escreve a amiga Betsy Berne, no livro Francesca Woodman, da autoria de um professor da Universidade de Londres, Chris Townsend, recentemente publicado pela editora Phaidon e com 130 fotografias inéditas de Woodman.
Diane Arbus viveu aprisionada pelas convenções. E pelos fantasmas interiores. "Penso sobre o que quero fazer e o entusiasmo tira-me o fôlego. Mas, de repente, a energia desaparece, deixando-me incomodada, afundada, enlouquecida e assustada pelas mesmas coisas de que julgava estar desejosa", escreveu ela, numa carta a uma amiga, em 1968. Três anos depois, aos 48, deixaria que a fragilidade a arrastasse. Em casa, em Greenwich Village, Nova Iorque, engoliu vários comprimidos para dormir, entrou vestida na banheira e cortou os pulsos. Parte da sua vida está no filme Fur - Um Retrato Imaginário de Diane Arbus, de Steven Shainberg, com Nicole Kidman como actriz principal. A estreia no cinema foi em Março e o DVD chega hoje a Portugal.
Comparadas as biografias, não foi só na tragédia que coincidiram as duas mulheres. Apesar de nunca se teram conhecido, Woodman (1958-1981) e Arbus (1923-1971) disparavam a máquina fotográfica da mesma forma - para captar a tormenta, delas e do mundo. Além disso, unem-nas várias coincidências: Woodman começou a fotografar em 1971, ano em que Arbus se suicidou. Arbus teve a primeira filha (Doom; terá uma segunda, Amy) aos 22 anos, idade com que Woodman pôs termo à vida.
Os temas que escolheram são diferentes, tal como as máquinas que usaram a maior parte do tempo: uma Yashica Reflex, no caso de Woodman, e uma Rolleiflex de lente dupla, no de Arbus. Woodman autoretratou-se. "Não tem frio nos olhos, está despida como ninguém, decidiu perturbar o sonambolismo humano", diz dela o escritor e ensaísta francês Philippe Sollers. Arbus andou na rua atrás da diferença. "Mudou a forma como os americanos se viam durante os muito repressivos anos 50, elevando anões e travestis a temas fotográficos respeitáveis", explica ao P2 Shelley Rice, professora de Estética da Fotografia na Universidade de Nova Iorque.
Ainda assim, uma e outra deixaram uma obra onde "não há complacências face ao disforme, à monstruosidade ou à doença", conclui Sollers num texto do catálogo da única exposição de Francesca Woodman em Portugal, organizada em 1999 pela Fundação Cartier no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
artigo completo