terça-feira, 7 de agosto de 2007

Marginais e resistentes

Na "Pública" de 5 de Agosto. Excerto:


Em Portugal há línguas que só alguns dominam. E das quais não há dicionários ou gramáticas. Agora que decorre em Shangai o 18º Congresso Mundial da Federação Internacional de Tradutores, de 4 a 7 de Agosto, fomos à procura dos tradutores literários que resistem à tirania do inglês.


Um escritor estrangeiro ganha o Prémio Nobel da Literatura em 1955 e passados 42 anos é publicado, pela primeira vez, em Portugal. Dito assim, parece impossível. No entanto, é verdade. “Gente Independente”, do islandês Halldór Laxness (1902-1998), está disponível em português desde Março último. A badana do livro, dado à estampa pela editora Cavalo de Ferro, informa que o autor já tinha sido vertido para mais de 45 idiomas. No Brasil, há muito que o conhecem traduzido. Por cá, só agora.

A islandesa Gudlaug Rún Margeirsdóttir, autora da tradução de “Gente Independente” (revista por Jorge David e Maria João Branco) explica o atraso com três argumentos. O islandês é uma língua muito difícil. A Islândia, país com cerca de 290 mil habitantes, continua a ser pouco conhecido da maior parte dos portugueses. E Laxness era um “rebelde da literatura”: a ficção deste antigo monge beneditino, convertido ao socialismo soviético, com o qual haveria de se desiludir, fala da pobreza dos camponeses e outras desgraças das classes baixas, pelo que “nunca poderia ter sido traduzido em Portugal durante o Estado Novo”, justifica.

Gudlaug Rún Margeirsdóttir é a única tradutora literária de islandês em Portugal. Há mais quem se dedique a verter a língua de Laxness para a de Camões, mas apenas ao nível técnico (relatórios, manuais de produtos, leis). Não a literatura. Acontece o mesmo com o árabe, o húngaro e o dinamarquês. Bruno Horta | foto de Sérgio Azenha