quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

As celebridades valem tanto quanto o homem da rua

No "Público", hoje; excerto:

Filho do fotógrafo oficial dos Beatles, Dean Freeman dedica-se, tal como o pai, a fazer retratos de artistas e celebridades. Mas go
sta de ir mais além. Há muitos desconhecidos nas suas fotos - pessoas que encontra nas ruas das grandes cidades e em sítios recônditos de África ou da Ásia. O seu quarto livro, Funkytown, agora publicado, é uma antologia de 27 anos de trabalho e põe lado a lado famosos e gente comum.

Faz de conta que Fukytown é o nome de uma cidade. Onde personagens extravagantes fazem transacções proibidas, rapazes viçosos conversam em grupo e ouvem as músicas do tempo deles, actores célebres e jogadores de futebol perdem a pose, velhos milagreiros saem da toca para ver a luz do dia e raparigas cândidas passeiam como se fossem donas do mundo. Onde há palhaços, drogados, bruxas, cantores, donas de casa, subúrbios pavorosos, avenidas deslumbrantes. Eis a Funkytown, cidade imaginária, feita de Londres, Hong Kong, Los Angeles, Milão, Rio de Janeiro, Nova Deli, Cotonu (Benim). A cidade onde o britânico Dean Freeman, de 44 anos, vive e se passeia há 27 - desde que se tornou fotógrafo. Tantos disparos depois, já era tempo de ir ao arquivo e rever o passado. Funkytown, livro de 200 páginas, publicado em Novembro pela editora italiana Damiani, serve para isso mesmo. Freeman classifica-o como uma autobiografia visual.
(...) "Quis fazer um livro cheio de vida, jogar com diferentes géneros de pessoas e paisagens, não me interessava ter apenas as celebridades que fui fotografando ao longo dos anos", explica. "Seria a ideia mais fácil, mas não passaria de um portfólio, não preciso disso". Para ele, aliás, a diferença entre gente famosa e gente de rua não existe. "Gosto tanto de fotografar crianças no Brasil e velhos em África quanto uma celebridade. Têm ambos a mesma importância", afirma.(...) O interesse de Freeman por fotografia e retratos parece ter uma fonte óbvia: o facto de o pai, Richard Freeman, ser fotógrafo. Mas parece que não é bem assim. "Cresci a ver livros e fotografias em casa, mas não aprendi directamente com o meu pai." A história é, talvez, mais prosaica. Era mau aluno, deixou a escola cedo e, para fazer alguma coisa da vida, tornou-se aprendiz em lojas de fotografia. "Depois, a coisa evoluiu naturalmente, eu tinha jeito para isto." Quanto à sua ligação aos Beatles - uma vez que o pai foi o fotógrafo oficial do grupo, entre 1963 e 66, e fez as fotos e a composição gráfica dos primeiros cinco álbums -, não há muito para contar. "Era ainda um bebé quando o meu pai fez as fotos dos Beatles, a única coisa que lhes posso ter dito foi "gu-gu dá-dá"", ironiza, quando lhe perguntamos se chegou a conhecer a banda. Bruno Horta