terça-feira, 1 de julho de 2008

As ideias têm proprietários?

É uma opinião inovadora, mas perigosa. O Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas enviou hoje aos órgãos de comunicação social uma recomendação que diz o seguinte:
O Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas considera que um jornalista freelancer mantém sempre a autoria de um artigo/reportagem, mesmo que sob a forma de ideia conceptual, independentemente de um determinado órgão de comunicação social tenha recusado a sua publicação ou desenvolvimento. Isso implica que o jornalista freelancer mantém, para todos os efeitos, reserva do direito de propor futuramente esse trabalho a outros órgãos de comunicação social, mesmo que, no limite, nenhum se mostre interessado na sua publicação.
Esta questão já tinha sido levantada numa reunião recente do Sindicato. A mim nunca me roubaram ideias. E não conheço jornalistas a quem o tenham feito. Mas, dada a forma como os freelancers se relacionam com as redacções (propostas feitas por mail ou telefone, etc, etc) não é estranho que o plágio aconteça. É condenável, sem dúvida nenhuma.

No entanto, esta recomendação tem aspectos perigosos, porque cria a figura do "proprietário de ideias". Que fazer se dois freelancers propuserem a mesma coisa no mesmo dia? E se um freelancer propuser uma coisa que hoje não interessa ao editor e um outro freelancer, semanas depois, propuser coisa idêntica e ela já interessar? A quem deve ser feita a encomenda?

Quanto à história de "propor futuramente" o mesmo trabalho a diferentes órgãos, é uma coisa completamente diferente, não tem nada que ver com a autoria das ideias. É de propostas, sejam elas quais forem, sejam feitas a quem forem, que vivem os freelancers. Neste aspecto particular, a recomendação atirou ao lado.