Bem maquilhada, veste um top que revela um torso robusto e agita as mãos nervosas para melhor se expressar. De repente, aclara a voz com um pouco de água e dá uma gargalhada contida, embrulhada num sorriso muito irónico. É a reacção a uma pergunta que começa assim: “Uma sociedade como a espanhola, em que a ministra da Defesa [Carme Chacón] passa revista às tropas grávida…” E a gargalhada contida intromete-se. "O filho que a ministra entretanto deu à luz [em Maio ] tem como pai um antigo chefe meu que foi meu namorado”.
No início de uma tarde de calor, no escritório da editora Cavalo de Ferro, na Baixa lisboeta, a escritora espanhola Paula Izquierdo, de 46 anos, está disponível para falar sobre o seu livro Sexodependentes – 21 Histórias de Mulheres Radicais, cuja tradução portuguesa (por Gabriela Matias) acaba de ser publicada. Mas a conversa ganha outro caminho. O livro, um conjunto de vinte ensaios biográficos, não carece de grandes dissertações. É simples e de leitura fácil. Faz-nos voltar a pensar em mulheres como Janis Joplin, Edith Piaf, Virginia Woolf, Anaïs Nin, Simone de Beauvoir ou Isadora Duncan não do ponto de vista daquilo que fizeram enquanto figuras públicas, mas à luz do óbvio e ardiloso ângulo escolhido pela autora – as transgressões sexuais de que foram exímias praticantes, umas ao ponto de serem autênticas marginais da moralidade, [outras ao ponto] de se terem tornado ninfomaníacas.Mas com Paula Izquierdo à nossa frente – a mala já feita, ali ao lado, para daqui a poucas horas apanhar o voo de regresso a Madrid, cidade onde nasceu e vive – interessa mais conhecê-la a ela do que ao objecto literário que escreveu. Que pensa sobre as mulheres de hoje e a sua sexualidade [alguém que decidiu fixar em livro as intimidades de figuras históricas]?
Voltemos à pergunta que marca a conversa: a imagem da ministra espanhola da Defesa grávida, passando revista às tropas no dia da tomada de posse. É muito poderosa, não é? “Sim, é”, admite enfim a escritora. “Mas é preciso encontrar o equilíbrio e não levar as coisas ao outro extremo. Ela é uma mulher muito inteligente, se estava grávida não podia deixar de estar, claro, mas foi oportunista naquele momento. Aliás, suspeito que o primeiro-ministro Zapatero quando a convidou para ministra já tivesse em mente essa imagem forte que é uma mulher grávida. Por mim, gosto que quem está no poder seja inteligente e coerente, independentemente de ser homem ou mulher. É idiota escolher uma mulher para um lugar só por ser uma mulher”. Bruno Horta
No início de uma tarde de calor, no escritório da editora Cavalo de Ferro, na Baixa lisboeta, a escritora espanhola Paula Izquierdo, de 46 anos, está disponível para falar sobre o seu livro Sexodependentes – 21 Histórias de Mulheres Radicais, cuja tradução portuguesa (por Gabriela Matias) acaba de ser publicada. Mas a conversa ganha outro caminho. O livro, um conjunto de vinte ensaios biográficos, não carece de grandes dissertações. É simples e de leitura fácil. Faz-nos voltar a pensar em mulheres como Janis Joplin, Edith Piaf, Virginia Woolf, Anaïs Nin, Simone de Beauvoir ou Isadora Duncan não do ponto de vista daquilo que fizeram enquanto figuras públicas, mas à luz do óbvio e ardiloso ângulo escolhido pela autora – as transgressões sexuais de que foram exímias praticantes, umas ao ponto de serem autênticas marginais da moralidade, [outras ao ponto] de se terem tornado ninfomaníacas.Mas com Paula Izquierdo à nossa frente – a mala já feita, ali ao lado, para daqui a poucas horas apanhar o voo de regresso a Madrid, cidade onde nasceu e vive – interessa mais conhecê-la a ela do que ao objecto literário que escreveu. Que pensa sobre as mulheres de hoje e a sua sexualidade [alguém que decidiu fixar em livro as intimidades de figuras históricas]?
Voltemos à pergunta que marca a conversa: a imagem da ministra espanhola da Defesa grávida, passando revista às tropas no dia da tomada de posse. É muito poderosa, não é? “Sim, é”, admite enfim a escritora. “Mas é preciso encontrar o equilíbrio e não levar as coisas ao outro extremo. Ela é uma mulher muito inteligente, se estava grávida não podia deixar de estar, claro, mas foi oportunista naquele momento. Aliás, suspeito que o primeiro-ministro Zapatero quando a convidou para ministra já tivesse em mente essa imagem forte que é uma mulher grávida. Por mim, gosto que quem está no poder seja inteligente e coerente, independentemente de ser homem ou mulher. É idiota escolher uma mulher para um lugar só por ser uma mulher”. Bruno Horta