domingo, 5 de fevereiro de 2012

"Uma aberração da mentalidade nacional combalida"

«Nos primeiros tempos do domínio castelhano, ninguém acreditava na morte de D. Sebastião. Faltando um testemunho seguro do facto, engedravam-se lendas sobre a morte do rei, que todas concluíam pelo seu aparecimento. [...] Portugal vivia numa atmosfera de dor, de misticidade e de portentos.

Uma asserção, repetida com convicção e mostras de convicção por qualquer indivíduo, faz sempre algum abalo no espírito dos ouvintes. Quando é conclamada pelas multidões, inane, inverosímil, ou absurda que seja, converte-se numa força tremenda. [...]

O sebastianismo foi uma aberração da mentalidade nacional combalida e exasperada pelo infortúnio: sopeados, tiranizados, empobrecidos, humilhados, os portugueses apelavam para o Céu e acreditavam piamente que ele suspendera a lei de morte para o seu último rei natural. [...]

Esta aberração mental encasou-se tão estreitamente no organismo, que se transmitiu às gerações subsequentes.

A restauração não a saneou.»

Origens do Sebastianismo: História e Perfiguração Dramática  (Texto Editora, 2011), António de Sousa Silva Costa Lobo (ed. original 1909)