domingo, 13 de maio de 2012

Onde está a novidade?


A já famosa declaração de Obama sobre o casamento gay não me aquece nem arrefece. O presidente norte-americano disse esta semana numa entrevista à ABC que  "pessoalmente" lhe parece "importante" que "os casais do mesmo sexo possam casar-se". No original: "I’ve just concluded that for me personally it is important for me to go ahead and affirm that I think same-sex couples should be able to get married."

Há que diga que a frase é histórica por nenhum presidente dos EUA algum dia ter falado tão abertamente sobre homossexualidade. Pois eu acho que a frase, além de ambígua, não tem nada de histórico nem de marcante.

Por três razões:
1) Obama não defendeu o casamento gay; conseguiu fazer-se passar por apoiante da causa, mas evidentemente, se for reeleito, não vai fazer nada (não fez enquanto podia) para mudar a lei federal. A frase de há dias serve apenas para agradar aos financiadores gay da sua campanha eleitoral (um em cada seis doadores de fundos para Obama são gays):

2) no dia anterior à declaração de Obama, o estado da Carolina do Norte votou esmagadoramente, em referendo, a favor da criação de uma cláusula constitucional estadual que impede explicitamente o casamento gay ou quaisquer formas de união gay naquele estado. Obama já tinha dito que se opunha a tal cláusula. Ou seja, tinha dito (através de um porta-voz, é certo) que apoiava o casamento gay. A declaração à ABC não contém, pois, novidade no conteúdo, mas apenas na forma: ser ele dizê-lo de viva voz.

3) A posição alegadamente inovadora de Obama só agrada a quem ainda pensa que o casamento gay é uma conquista legal importante; a declaração encaixa no discurso conformista segundo o qual as pessoas homossexuais querem uma conjugalidade e uma vida familiar decalcadas do padrão heterossexual (visão que muitos grupos gay fazem passar nos média como opinião consensual, o que não corresponde à verdade).