terça-feira, 28 de maio de 2013

Co-adopção



Três coisas ficaram evidentes no "Prós e Contras" que ontem à noite, na RTP1, debateu a lei da co-adopção (em discussão no Parlamento, depois de aprovada na generalidade).

Primeira: falta aos defensores desta lei o conforto argumentativo que demonstraram há três anos no debate público sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Estão menos seguros do que dizem, porque o que dizem implica terceiros (as crianças co-adoptadas ou a adoptar) e esses terceiros não são um objecto tangível na linha geral de pensamento do movimento LGBT. Isso mesmo se viu quando os defensores da lei ficaram em silêncio aos serem acusados, por várias vezes, de usarem a co-adopção como forma de chegarem à adopção (o que é possível: adopção singular por um membro do casal, casamento civil do casal, co-adopção do adoptado pelo cônjuge que não o adoptou singularmente). O único argumento de peso, apresentado pela deputada Isabel Moreira, é o de que se a adopção por pessoas singulares é permitida, o que significa que a lei não impõe como condição o binarismo de género no seio da família, a co-adopção não muda nada.

Segundo: os detractores desta lei não conseguem apresentar um argumentário forte porque ele só estaria completo se os detractores dissessem tudo o que pensam. Que não é tudo o podem dizer. Em rigor, pensam que homossexualidade não é normal e saudável, pelo que as crianças a cargo de homossexuais podem tornar-se também homossexuais ou, no limite, ser vítimas de abusos sexuais. O único argumento de epso, apresentado pelo psicólogo Luís Villas-Boas, foi o de que a lei do casamento gay proíbe a homossexuais casados a adopção "em qualquer das suas modalidades", pela que a lei da co-adopção, que não revoga aquela proibição, entra em conflito com a lei do casamento.

Terceiro: uns e outros planam sobre a realidade e  fazem uso de grelhas de entendimento radicais, o que por si só não seria grave se não reflectisse, como reflecte, um olhar muitas vezes irresponsável.