Susana Paiva |
"Cada Sopro" é uma história de tensão, com ambiente sonoro à medida, e um espaço cénico que aproveita bem a sala concreta em que decorre (portas e escadas do Teatro da Politécnica são também parte da casa de quatro das personagens). Só não tenho a certeza sobre se o tema, a família como neurose, que não é novo nem especialmente palpitante em 2013, encontra neste texto de Benedict Andrews alguma revelação ou beleza.
Os jantares da família (dois gémeos de 16 anos e um casal de meia-idade em corte emocional), remetem para um filme de David Lynch: tudo no fio da navalha, ansiedade à beira da explosão, uma arma que pode rebentar agora, um anão que ameça surgir debaixo da mesa. Acontece que a encenação é muito superior ao texto e quanto a isso não há mesmo nada a fazer.
Ficou claro que os encenadores, John Romão e Paulo Castro, não procuraram, e disseram-no em entrevistas, actores que exibissem virtuosismo técnico. Mas há a assinalar o "lo-fi" de algumas personagens, nomeadamente a do segurança. O ensimesmamento da personagem, mais o seu gritante erotismo, pedem contenção mas não embotamento. O actor Sisley Dias parece esperar que a espessura se construa sozinha em poses que uma câmara de televisão saberia captar, mas o público numa sala não sabe, nem pode.