Camille Paglia, a teórica odiada pelo integrismo de esquerda, explicou em 2010 no New York Times porque é que o "corpo-eficiência" tomou o lugar do "corpo-erotismo" na cultura norte-americana.
Não é que o espaço público esteja hoje livre de um erotismo permanente. Pelo contrário. Há cada vez mais sexo nos artefactos culturais do Ocidente. Só que é um erotismo simulado, controlado, respeitoso e comercial. Aqui e ali com chama, porque vindo de sub-culturas à margem, mas em geral tolhido e de olhos postos nos cifrões. Um erotismo que não emana de autores, mas de máquinas que determinam as alegadas escolhas dos autores.
Porquê isto? Efeito do imperialismo classe-média, da mediania do estatuto, da industrialização do gosto e de uma sociedade em campos de concentração de trabalho e obrigações, diz Camille Paglia.
As "artes" reflectem e produzem este estado de coisas. E é por isso que quando pomos a geração que foi adolescente na década de 90 ao lado da que o foi em 60 ou 70, o resultado é pouco menos que catastrófico, com desvantagem para aquela.
Os de agora não se ouvem nem não vão além de um limite pré-estabelecido. São vozes auto-censuradas. Na voz, propriamente dita, mas também nas ideias. Foram ensinados a pensar dentro de limites e aceitam isso. Prescindem da técnica por acharem que a técnica limita, quando a técnica liberta.
Os de antes, agora nos 50 ou 60 anos, são vozes audíveis. É gente que faz arte menos "pós" e mais "pró" e isso nota-se. Felizmente, toda a gente nota.
Sábado à noite fui ver o Queer-Mente.