«Não precisamos de regressar ao defunto freudo-marxismo dos anos 60, nem ao problema da integração da sexualidade na luta política, para percebermos que a sexualidade é um problema político; e que, na rejeição ou na aprovação da lei da co-adopção, a homossexualidade estava em causa não como o que se passa na cama, mas como o que se passa na polis, na praça pública. E aqui começamos a perceber que entre a afirmação “eu sou homossexual” e a recusa de o dizer há uma zona muito mais ambígua que Daniel Oliveira parece não reconhecer. Aquilo que na homossexualidade constitui um problema para os políticos não é o que se passa na cama, mas o modo como a sexualidade se difunde num modo de vida, que compreende uma cultura e uma ética. É com toda a veemência que temos de recusar esta ideia muito limpinha de Daniel Oliveira: “Um homossexual é apenas uma pessoa que tem preferência sexual e/ou amorosa por pessoas do mesmo sexo”. Igualmente falsa, escandalosamente falsa, é a ideia simétrica de que um heterossexual é apenas uma pessoa que tem preferência por pessoas do sexo oposto.»
António Guerreiro, Ípsilon, ontem, aqui