domingo, 30 de novembro de 2014

Teorema

Está lá, por várias vezes, o rumor, que é um ronronar de ansiedade, que eu já tinha ouvido em "Cada Sopro", peça que John Romão apresentou no Teatro da Politécnica no Verão de 2013. Está lá a pizza, estão os miúdos, está a câmara de filmar em tempo real, a loucura e o universo infantil, o grotesco e o epiléptico que eu já vi em "O Arco da Histeria" (2010) e em "Eu Não Sou Bonita, Eu Sou o Porco" (2012), está lá também o espampanante e o festivo que já vi em "Velocidade Máxima" (2009).

Quer dizer: "Teorema", espectáculo que John Romão apresentou no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, nos dias 27 e 28 de Novembro (depois da estreia, em Outubro, no Rivoli), reproduz a linguagem própria do criador, o universo mental dele, que é fresco e divertido, sério e depressivo, homoerótico mas sem o acto. Estão lá marcas de autor, o que significa que temos um criador com voz própria, e isso é muito. 

Mas "Teorema" não seduz. É demorado, foge da palavra e agarra-se à plástica, vive de quadros independentes e acaba por frustrar. Olha-se à procura de um sentido (se é que tem de haver ali um sentido) e não se encontra. É o espectáculo mais bem montado e adornado que já vi de John Romão. Um espectáculo de maturidade plástica. Mas queria ter visto mais teatro.