O "Expresso" publicou na última edição uma entrevista com Mário Cesariny. A entrevistadora, Maria Bochicchio (não sei quem é), diz que a entrevista foi feita em Junho deste ano e que na altura estava longe de saber que esta seria "a última entrevista literária concedida por Cesariny".
Não sei o que é uma entrevista literária. Nunca encontrei tal termo em nenhum manual de jornalismo e nunca ouvi alguém do meio usar essa designação. Salvo opinião mais esclarecida, isso não existe.
Encontro numa página da universidade Nova de Lisboa a seguinte explicação: "entrevista literária pode colocar ênfase nos processos de produção artística do entrevistado, em aspectos biográficos, em histórias particulares de interesse cultural, em ideias formadas pelo autor que se quer conhecer melhor". Quem o diz é Carlos Ceia, professor de literatura inglesa naquela universidade.
Pergunto:
- porquê "literária" se não é, segundo a definição de Ceia, termo aplicável a entrevistas exclusivamente com escritores?
- porquê "literária" se a definição não diz que tal entrevista tem necessariamente de sair sob a forma de livro?
- porquê "literária" se o que a definição diz que ela compreende é exactamente o mesmo que compreende uma entrevista feita por um jornalista a um artista?
- porquê "literária" se a definição não estabelece que tal entrevista tem sempre que ser feita por académicos ou literatos, nem diz que não pode ser feita por jornalistas?
Não estaremos perante um termo desnecessário, que, em última análise, desvaloriza a entrevista jornalística?
Entrevista é entrevista. Ou é de emprego ou é entrevista. Longa, curta, bem feita ou mal feita, feita por jornalistas ou não jornalistas. A artistas ou não. Para ser publicada sob qualquer forma.
Já aqui se disse que a última entrevista concedida por Cesariny foi publicada no "El País" uma semana antes de ele morrer. Nada o desmente. Esta do "Expresso" não foi a última concedida, foi, o que em nada a desmerece, claro, a última publicada . Até ver.
Excertos:
"A poesia é um segredo dos deuses. Não é trabalho, embora às vezes se possa morrer de trabalho. Creio que sou um poeta inspirado, no sentido romântico de «daimon» - génio. Até ao momento em que o poeta se fecha e parte, voa. E depois fica igual aos outros".Não sei o que é uma entrevista literária. Nunca encontrei tal termo em nenhum manual de jornalismo e nunca ouvi alguém do meio usar essa designação. Salvo opinião mais esclarecida, isso não existe.
Encontro numa página da universidade Nova de Lisboa a seguinte explicação: "entrevista literária pode colocar ênfase nos processos de produção artística do entrevistado, em aspectos biográficos, em histórias particulares de interesse cultural, em ideias formadas pelo autor que se quer conhecer melhor". Quem o diz é Carlos Ceia, professor de literatura inglesa naquela universidade.
Pergunto:
- porquê "literária" se não é, segundo a definição de Ceia, termo aplicável a entrevistas exclusivamente com escritores?
- porquê "literária" se a definição não diz que tal entrevista tem necessariamente de sair sob a forma de livro?
- porquê "literária" se o que a definição diz que ela compreende é exactamente o mesmo que compreende uma entrevista feita por um jornalista a um artista?
- porquê "literária" se a definição não estabelece que tal entrevista tem sempre que ser feita por académicos ou literatos, nem diz que não pode ser feita por jornalistas?
Não estaremos perante um termo desnecessário, que, em última análise, desvaloriza a entrevista jornalística?
Entrevista é entrevista. Ou é de emprego ou é entrevista. Longa, curta, bem feita ou mal feita, feita por jornalistas ou não jornalistas. A artistas ou não. Para ser publicada sob qualquer forma.
Já aqui se disse que a última entrevista concedida por Cesariny foi publicada no "El País" uma semana antes de ele morrer. Nada o desmente. Esta do "Expresso" não foi a última concedida, foi, o que em nada a desmerece, claro, a última publicada . Até ver.
Excertos:
"A poesia nasce do contacto com o mundo na solidão em que nos encontramos. E às vezes confrontados com uma ditadura em cima, como a que recusámos violentamente".
"Eu sempre desejei ir além [do 'real quotidiano'], ir para dentro. O que presta é o amor, a liberdade e a poesia. A poesia é esse real absoluto que quanto mais poético mais verdadeiro. Era Novalis quem o dizia. A poesia vale como uma liberdade mágica".
"A poesia não se dirige a um leitor, dirige-se a mim próprio".