sábado, 30 de dezembro de 2006

"Irei manter a ambiguidade até ao fim da vida", diz Herman José

Atrevo-me a dizer que vai ficar na História a entrevista com Herman José que o "Expresso" publica hoje. Feita por Ana Soromenho e Isabel Lopes, com fotos de José Ventura.
Fica em qual História? Na do jornalismo (porque nunca outros jornalistas tinham conseguido confissões destas), na do entretenimento (nunca um actor/apresentador/humorista português se confessou publicamente desta forma) e, enfim, na da intimidade exposta em Portugal (como as falsas estrelas não contam, acho que se pode dizer que nunca alguém que conta falou sobre a sua intimidade desta forma).
E que diz Herman? Talvez esta parte, sobre a orientação sexual dele, seja a mais interessante:

No novo programa vai ter um «gay». É uma atitude provocatória?

Não! Provocar foi na altura própria, quando estava acusado. Nunca o meu «Nelo» foi tão disparatado. Fiz questão de mostrar que não ia fazer o mínimo esforço para que pensassem que a partir daquele momento iria fazer papel do santinho. Usei bem o facto de ter a bola vermelha no canto do «Herman SIC». Ter agora um «gay» neste programa é o mesmo que ter uma chique ou uma prostituta…


São «cromos» que funcionam sempre?

A bichice dá muita vontade de rir. E o «Nelo» mexia numa coisa que é fatal: casar para ter uma fachada, e subir na carreira... Conheço demasiados casos destes.


No meio artístico há muitos casos de ambiguidade quanto à orientação sexual. O Herman é um deles.

Sempre achei divertidíssimo. Tenho uma querida amiga, uma louraça explosiva, com quem apareço em muitos sítios e quando chegamos fica tudo muito incomodado. É quase uma comoção! Mas se chegar com o rapaz mais bonito do mundo, aí já é tudo normal (gargalhadas). Já inverti os papéis, o que é fantástico.


Gosta dessa ambiguidade?

É uma forma de sacanear as pessoas que me diverte imenso. Quando vou com ela para Nova Iorque, se houver portugueses no hotel e virem que estamos no mesmo quarto, ficam em estado de choque: «No mesmo quarto?! A fazer o quê?!»


Não teme que o público o rejeite?

O público mais simples está-se a borrifar. Essa preocupação é sempre ao nível de uma comezinha classe média-alta que vive da pequena coscuvilhice e que saliva a pensar nessas coisas. Eles próprios muitas vezes não estão bem resolvidos e diverte-me fazer-lhes cócegas. É uma ambiguidade que irei manter até ao fim da vida. Jamais mexerei uma palha para provar seja o que for.


Diz-se que a sua ambiguidade seria esclarecida após a sua mãe partir…

É mentira. A minha mãe faz parte da minha intimidade. Ela vai comigo para Ibiza. Acham que fica fechada no armário?


Põem-no à prova?

Sobretudo as mulheres adoram pôr-me à experiência. E geralmente saem sempre felizes e satisfeitas (gargalhadas).


E os homens?

Tenho muito pouca saída com homens, não me perguntem porquê. Devo inspirar muito um tipo de carinho maternal.


Já contou como perdeu a virgindade com uma senhora mais velha.

Em Marbella, uma senhora maravilhosa chamada Joelle. Sinto-me muito confortável com as mulheres. A qualidade da amizade e do toque feminino não é comparável ao masculino. A capacidade masculina de gostar tem seis aromas e a das mulheres tem pelo menos 15 mil.


Quais são os seis aromas masculinos?

Pila, pila, pila, pila, pila e depois mais qualquer coisinha... (Gargalhadas)


Chegou a viver com duas mulheres.

Uma durante muito tempo, outra foi a primeira paixão avassaladora. Depois percebi que jamais poderia viver com alguém. Tenho um tipo de vida invejável: se me apetecer, no final desta entrevista, meto-me num táxi e vou para o aeroporto. É um privilégio que não tem dimensão. E como não tenho filhos...


Confessou que nunca teve filhos porque lhe iriam trazer vulnerabilidade.

É verdade. Somos completamente destrutíveis a partir dos filhos. A minha única porta de entrada é a minha mãe.