"Combateremos a Sombra" é o novo romance de Lídia Jorge, a publicar esta semana (lançamento na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa). O livro é sobre como Portugal vive a deriva do mundo. A "Visão" entrevistou a autora. Excerto:
São as suas revoltas que quis exorcizar [neste livro]?
Sim. Este livro é mais virulento, imprecador. Tem a ideia de que este é um país particular a viver um momento particular da deriva do mundo. Aqui, juntamos uma herança fantasmática sobre nós próprios ao clima geral. Isto é, percebemos que uma cultura onde tudo se mostra, tem por ironia que quanto mais se mostra mais se oculta. Algo que Portugal tem pela fragilidade da sua democracia, pela incapacidade de quebrar a antiga elite: o domínio de determinadas famílias e castas continua a ser o mesmo. Tem havido renovação do tecido social, nomeadamente pela ascensão das mulheres, mas é só até certo ponto. Nos níveis de poder, de decisão, continuam a ser praticamente os mesmos.
É o denominado telhado de vidro abrangente?
Exactamente. No momento em que, nas democracias ocidentais, os mais capazes são expulsos dos seus sítios, essa mesma lógica é, no nosso país, casada com outra e dá um silenciamento do grande escândalo. Um determinismo e uma impotência. José Gil reflectiu bem sobre este duplo recalcamento. Estava a escrever o livro quando li "Portugal Hoje, O Medo de Existir" e percebi que estava a fazer de forma metafórica o que ele defendeu do ponto de vista filosófico. Vivemos momentos históricos. Há estes processos [Apito Dourado?] sobre os quais nós conhecemos, bem ou mal, histórias incríveis, que é impossível serem todas falsas... As pessoas poderem ser acusadas, já é alguma coisa! Mas não quero confundir as coisas. Um livro como o meu pretende atingir a parte íntima, inculcar nos leitores o desejo de serem incomodados perante a injustiça. Vale muito menos do que a denúncia de um jornalista, de um polícia, ou de uma amante bem colocada...
entrevista de Sílvia Souto Cunha; Visão, 15 de Março 2007
Sim. Este livro é mais virulento, imprecador. Tem a ideia de que este é um país particular a viver um momento particular da deriva do mundo. Aqui, juntamos uma herança fantasmática sobre nós próprios ao clima geral. Isto é, percebemos que uma cultura onde tudo se mostra, tem por ironia que quanto mais se mostra mais se oculta. Algo que Portugal tem pela fragilidade da sua democracia, pela incapacidade de quebrar a antiga elite: o domínio de determinadas famílias e castas continua a ser o mesmo. Tem havido renovação do tecido social, nomeadamente pela ascensão das mulheres, mas é só até certo ponto. Nos níveis de poder, de decisão, continuam a ser praticamente os mesmos.
É o denominado telhado de vidro abrangente?
Exactamente. No momento em que, nas democracias ocidentais, os mais capazes são expulsos dos seus sítios, essa mesma lógica é, no nosso país, casada com outra e dá um silenciamento do grande escândalo. Um determinismo e uma impotência. José Gil reflectiu bem sobre este duplo recalcamento. Estava a escrever o livro quando li "Portugal Hoje, O Medo de Existir" e percebi que estava a fazer de forma metafórica o que ele defendeu do ponto de vista filosófico. Vivemos momentos históricos. Há estes processos [Apito Dourado?] sobre os quais nós conhecemos, bem ou mal, histórias incríveis, que é impossível serem todas falsas... As pessoas poderem ser acusadas, já é alguma coisa! Mas não quero confundir as coisas. Um livro como o meu pretende atingir a parte íntima, inculcar nos leitores o desejo de serem incomodados perante a injustiça. Vale muito menos do que a denúncia de um jornalista, de um polícia, ou de uma amante bem colocada...
entrevista de Sílvia Souto Cunha; Visão, 15 de Março 2007