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"Há algo estranho que eu, como psiquiatra, não entendo: o casal funciona em uníssono. Aparentemente, o pai [Gerry McCann] é quem dá ordens, mas, em minha opinião, a chave do mistério é a mãe [Kate McCann], uma mãe que já tinha problemas psicológicos, com tratamento médico, anteriores ao sequestro.
A conduta e o aspecto da cara da mãe denotam ausência de emoções. É a mesma cara que se tem quando se joga póquer: não demonstra nenhum tipo de sentimentos. Ocasionalmente, há lágrimas. Dá impressão que ela tem problemas afectivos profundos. Não é uma reacção depressiva, não é uma questão neurótica, é uma coisa mais profunda. A expressão facial dela quase não muda. Porquê? É um silêncio de culpa. Não sei se eles [o casal] sabem o que se passou [com a filha], mas é um sentimento de culpa. (...) Não estou a fazer um diagnóstico, não estou a culpar ninguém, estou a fazer um juízo de valor. Mas esta cara esconde um mistério.
(...) O marido, cirurgião, especialista, profissional, é quem a conduz em cena. São como dois actores num teatro. É ele quem dirige tudo. Ele é mais espontâneo do que ela, controla mais, é ele quem aparece nas televisões, mostra as fotos nas conferências de imprensa, dá sempre o primeiro passo. Ela está sempre atrás, quieta e calada. Há algo escondido. E é ela que esconde. O marido e ela escondem-se atrás da imagem do matrimónio perfeito, mas talvez não seja assim tão perfeito.
(...) Eles tratam o assunto como se tivesse havido um pacto entre eles, que os leva a fazerem sempre o mesmo, a dizerem o mesmo, a olharem da mesma forma as câmaras, os jornalistas e os polícias."