terça-feira, 4 de setembro de 2007

Entrevistas de Verão

Como é que a política pode conseguir relacionar-se melhor com a velocidade da mediatização?
Nas democracias representativas, as únicas que funcionam, é fundamental preservar tempos lentos, silêncios e discrições. Uma sociedade em que tudo se soubesse, numa espécie de transparência total, seria sempre totalitária. Uma sociedade em que tudo acontecesse em tempo real seria sempre dominada pelo espectáculo, pelas pulsões mais imediatas. Esta reflexão encontra-se nos Federalist Papers. Quando os homens que fundaram os EUA discutiram o que é a democracia perceberam uma série de regras fundamentais. Uma delas é: quanto maior for o poder dos representantes mais longos terão de ser os seus mandatos. Isto para permitir que tomem decisões impopulares. A democracia não é apenas a soberania popular, o exercício do voto. É a conjugação do voto com a lei e com a possibilidade de haver decisões racionais que sejam impopulares. Se for apenas o exercício da vontade popular temos uma demagogia e não uma democracia. Hoje, as tecnologias de comunicação são potencialmente demagógicas. Trazem imensas vantagens para a democracia, mas se não houver uma reflexão sobre o seu uso acabam por ter um efeito demagógico, logo totalitário. Quando ouço falar em democracia mediática acrescento que a ‘democracia mediática’ não é democracia. Quando se afirma que na Internet e no Second Life há uma democracia directa, lamento dizê-lo, mas ‘democracia directa’ não é democracia.
Pacheco Pereira, Diário Económico, 24/08/2007


A integração dos jornais em grandes grupos económicos restringe a nossa liberdade?

Mas isso é resultado da globalização e do mercado livre, que permite tudo. Hoje, qualquer pessoa chega a director de jornal com uma rapidez impressionante, qualquer pessoa começa a escrever artigos de opinião. Não pode ser! Perde-se completamente a credibilidade. Se calhar sou anacrónico, penso de outra maneira, sou de outro tempo… Mas eu trabalhei em grandes jornais, e aquelas redacções metiam medo, porque cada um vigiava o outro. Era um jornalismo que recusava essa grande tese da distanciação; era um jornalismo da proximidade o que nós fazíamos. Aliás, não entendo essa coisa da distanciação quando a única coisa que o jornalismo pode ser é justo, procurar a justeza das coisas. Quanto mais aproximados estamos, mais entendemos os factos.

Quando fala de proximidade não está a referir-se a uma proximidade geográfica… Digo isto, porque os jornais têm investido em edições múltiplas, com destaques diferentes para cada região do país…

Não, não. Falo de aproximação no sentido do compromisso com o leitor. A tese da distanciação é como se o jornalista não tivesse nada a ver com a notícia, como se o director e o chefe de redacção não tivessem nada a ver com o jornalista, e o jornal não tivesse a ver com nada. A distanciação é absurda.

Baptista-Bastos, Jornal de Notícias, 10/08/2007




A blogosfera não é particularmente generosa consigo. Li que é "fria", "ambiciosa", que se comporta como "oficial da Gestapo" e que "persegue os seus 15 minutos de fama". Fica magoada com o que se foi começando a escrever sobre si?

A inveja é a melhor terapia dos preguiçosos. A blogosfera diz tudo isso a meu respeito. Mas eu gostava de conhecer jornalistas que já tivessem abandonado bons tachos como eu tinha no Expresso; que já se tivessem demitido de revistas como a “Grande Reportagem”, após ter sido despedido o director [Joaquim Vieira] com o qual eu tinha sido convidada a trabalhar, que foi despedido por razões políticas e não jornalistas, e na sequência do qual me demiti, ficando um ano no desemprego. Estas são as minhas maiores glórias no exercício do jornalismo e não sei se muita gente as tem.

Felícia Cabrita, Jornal de Notícias, 23/07/2007