terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Abusar da morte II

Sai esta semana, segundo notícia da Lusa, uma nova colectânea de Amália Rodrigues. Mas não é o disco que se esperava. Em Julho deste ano, as editoras Som Livre e Valentim de Carvalho anunciaram que publicariam até ao fim deste ano um álbum de inéditos. Era de inéditos, pois, que estávamos à espera. E não de mais um conjunto de fados que toda a gente já conhece e que, de forma mais ou menos fácil, está disponível em qualquer discoteca decente.

É chocante o que a indústriazinha portuguesa de música tem feito com Amália. Reedita antiguidades e liberta novidades conforme lhe apetece. Não se vislumbra um critiério que seja. E quando promete, não cumpre. Custa assim tanto a esta gentinha que só vê dinheiro perceber que todas as canções de uma artista como Amália devem ser do domínio público?

Se a ideia das editoras não fosse a de fazer render a galinha dos ovos de ouro durante anos a fio (que é isso precisamente o que estão a fazer com Amália) como explicar esta falsidade, dita por José Serrão, director da Som Livre (em Junho, à Lusa)?:
"Amália gostava de gravar e gravou muito, por isso ainda há muitas coisas suas desconhecidas e que estão agora a ser encontradas".

Agora a ser encontradas? Já na biografia que Vítor Pavão dos Santos escreveu, em colaboração com a fadista, em 1986, ela se queixava de que a sua editora tinha gravações inéditas e não as publicava. Até hoje, só saiu um álbum desses: "Segredo", em 1997. Os restantes inéditos são conhecidos da editora e estão devidamente catalogados. O mais, são lérias de comerciantes sem escrúpulos.