domingo, 24 de agosto de 2008

"Acham que isto não é trabalho?!"

Teria graça se não fosse penoso. Lili Caneças em entrevista ao "Expresso", ontem:

Porque será que têm inveja de si?

Porque tive uma vida fantástica. Fui a todo o lado e passeei-me como uma rainha.

(…)

Está mesmo convencida de que conseguiria casar com Marlon Brando?

Não tenho a menor dúvida! Eu era muito lolita. Chegava lá e dizia: «Tenho 15 anos, chamo-me Alice e venho do País das Maravilhas para casar contigo.» Acham que o homem dizia que não? Sempre consegui tudo na vida, porque não haveria de ter conseguido isto? Claro que para mim não teria sido muito bom, porque depois o percurso dele não foi dos melhores.

(…)

Existir socialmente justifica-se por si só?

Têm ideia do que é ser casada com um dos homens mais ricos de Portugal? E poder almoçar no «La Tour D’Argent», pôr os filhos nas melhores universidades do mundo, receber pessoas do mundo inteiro e providenciar para que nada lhes falte? Acham que isto não é trabalho?!

(…)

Protagonizou uma das maiores farsas da TV portuguesa: a sua zanga em directo com o Herman José no «Herman SIC». Isso descredibiliza.

Têm toda a razão. Não o devia ter feito. Mas foi uma brincadeira. Adoro o Herman e ele pediu-me: «Vais ter de me ajudar, a TVI vai passar os Óscares, a RTP tem um jogo de futebol e eu estou sem audiências. Vais ter de te zangar comigo». Sei que sou uma actriz nata e arrasei-o. Quando liguei o telemóvel tinha 41 mensagens do tipo «finalmente disseste ao Herman tudo o que Portugal pensa dele», assinadas por pessoas que eu via a bajulá-lo nos aniversários dele. Dei entrevistas a desmentir, mas não acreditaram.

(…)

Ainda se diverte nas festas?

Deixei de me divertir. Percebi que há pessoas que me rodeiam que eu julgava serem minhas amigas e não o são. Fiquei muito decepcionada. Quando comecei os tempos eram outros, os jornalistas eram uma família, escolhíamos as fotografias, éramos meia dúzia de pessoas conhecidas. Agora a agressividade tornou-se horrível. Cansei-me. Quero fazer uma mudança.

Que mudança?

Depois de ver a peça Driving Miss Daisy pensei que seria muito interessante fazer Sweet Bird of Youth (Doce Pássaro da Juventude), de Tennessee Williams. Como o meu amigo Paulo Pimenta começou a estudar representação, eu disse ao Carlos Avillez que ele seria óptimo para o papel porque até é parecido com o Paul Newman, que à época representou a peça. E ele desafiou-me: «E tu vais fazer o papel da Geraldine Page». Respondi-lhe que ele não estava bom da cabeça, mas insistiu em que eu tinha talento. Acreditei e, há dez meses, comecei a ter aulas de representação com o actor Tiago Justino.

Então agora vai ser actriz?

Vou ser actriz e vou estrear em Setembro no TEC (Teatro Experimental de Cascais). Mas pretendemos fazer mais do que uma peça. Vamos criar um movimento que se chama «Geração I Have a Dream» porque gostaríamos, sem arrogância ou pretensiosismo, de pôr a representar jovens sem perspectivas de vida.

(…)

Vamos assistir ao fim da «socialite» Lili?

Vamos. Aqui acaba a Lili Caneças e começa a Maria Alice de Carvalho Monteiro.

Entrevista de Ana Soromenho e Isabel Lopes