quinta-feira, 19 de março de 2009

Jesus abriu a porta aos homossexuais

É um livro rebelde e já estaria confiscado se vivêssemos há 40 anos. José António Almeida , autor de O Casamento Sempre Foi Gay e Nunca Triste, agora publicado, consegue juntar em apenas 54 páginas um poderoso conjunto de ideias iconoclastas que, no mínimo, fariam corar um santo. Raras vezes se viu algo parecido na literatura gay portuguesa. “Encontramo-nos no ponto exacto em que a palavra ‘paneleiro’ ainda não se transformou semanticamente e de forma cabal na palavra ‘pioneiro’”, escreve o autor – para explicar que apesar de todas as conquistas de direitos o casamento gay é apenas o quilómetro zero da História dos homossexuais. Essa causa e a crítica à posição oficial do Vaticano sobre a homossexualidade são os temas principais do livro.
(...) A ideia mais polémica deste livro é a de que os homossexuais só têm protagonismo social hoje porque o cristianismo o permitiu. A “sacralização do par masculino-feminino sob a forma de casal heterossexual matrimoniado” não é uma ideia absoluta para o cristianismo. “Antes é amplamente relativizada” pelos valores do celibato sacerdotal e da virgindade. “É esta relativização do casal heterossexual que abre espaço para o posterior surgimento, embora eventualmente não desejado à partida, de outra realidade: o par homossexual”. Com esta passagem, fica dada a estocada final: “A figura celibatária de Jesus de Nazaré (…) veio possibilitar em termos culturais o aparecimento do homossexual autónomo e progressivamente emancipado dos nossos dias”.
[Time Out Lisboa, ontem; aqui]